No meu texto "Cortina de Fumaça" eu relato uma situação em que um fiscal da prefeitura admoesta um caseiro que queimava um monturo de folhas secas provenientes da varredura do seu quintal. Imbuído da "autoridade" inerente à sua função o fiscal ameaça autuar o serviçal com base na legislação relativa a "queimadas". Na ocasião fiz ver ao fiscal que sua vinda ao local, de carro, havia "custado", em emissão de GÁS CARBÔNICO, centenas de vezes mais do que a emissão causada pelo ato doméstico do caseiro. Além do que a legislação alegada não se aplicava, uma vez que não se tratava de "supressão" de vegetação.
Será que o "erro" do fiscal não justificava o "erro" do caseiro?
No bairro onde moro todas as residências são casas com quintais (enormes), densamente arborizados. A "geração" de lixo (folhas secas) é intensa e diuturna e o poder público (prefeitura) não disponibiliza serviço de retirada deste tipo de lixo.
Concordo plenamente que a fumaça gerada pela queima é nociva, incomoda e faz mal a quem a respira, mas, não posso considerar e concordar que este tipo de "geração" de gás carbônico como sendo relevante para elevar o teor deste gás na atmosfera! É o mesmo que dizer que o marujo que faz xixi na amurada do navio está contribuindo para poluir o oceano!Além disso, é preciso avaliar outros aspectos.
Deixar o lixo onde está para que se decomponha naturalmente é o tipo de "solução" que quem mora numa casa sabe o transtorno que causa e a inviabilidade desta conduta. Mesmo levando em consideração o direito à vida e, reconheço a importância destes seres nas cadeias naturais, isso é propiciar habitat favorável na porta de nossas casas para cobras corais e jararacuçus (ambas letais), os escorpiões, as formigas, as aranhas armadeiras e outros adoráveis "bichinhos".
Varrer mas não queimar e juntar em uma porção do terreno especialmente destinada para "compostagem". Proposta também inviável para quem conhece como se dá um processo de compostagem, quanto tempo demora, e, ainda, que a quantidade de lixo gerada é sempre muito maior do que a capacidade de realizar a compostagem. Além disso, há que se considerar que o "lixo" de espécies como eucaliptos e pinheiros são de decomposição lentíssima, uma vez que estas espécies possuem, na sua composição química, poderosos bactericidas, que inibem as bactérias da decomposição (tentem compostar a pinha da casuarina e depois me contem!).
Retirar (contratar caminhões) periodicamente este lixo. Dois problemas, um prosaico e outro ambiental.
O prosaico: Isso custa dinheiro! Quem ganha para pagar caminhões toda semana (a quantidade deste tipo de lixo gerada em uma semana enche um - ou mais – caminhão. O ambiental: Retirar (sistematicamente) este material do local onde foi gerado significa RETIRAR NUTRIENTES, empobrecendo o solo local.
E queimar não é a mesma coisa? Não.
Quando você queima está reduzindo (oxidando, para ser mais exato) o CARBONO das cadeias que formam o vegetal a Gás Carbônico, no entanto, os componentes MINERAIS permanecem na forma de ÓXIDOS, nas CINZAS, e retornam ao ciclo no próprio local. O Gás Carbônico vai voltar a ser convertido nas cadeias carbônicas, formando novos tecidos vegetais, através da FOTOSSÍNTESE.
Há ainda o fato de que os caminhões depositariam este lixo "concentrando-o" em algum local, com o risco muito grande de que alguém ateie fogo (e, não tenham dúvida, alguém ateará!) formando não uma fogueirinha, mas uma montanha de fogo!
Portanto o problema não é tão simples. E eu sou alguém que procura, no seu dia-a-dia, "agredir" o menos possível o meio ambiente.
Só não convivo com idiossincrasias, fundamentalismo, ou, pior ainda, hipocrisias, como por exemplo, de fiscais e autoridades que fecham os olhos (mas não a carteira e os bolsos) a crimes evidentes e VISÍVEIS, como desmatamentos criminosos para construções clandestinas, tanto num extremo (favelas) quanto no outro (condomínios de luxo), e vem fazer "palhaçada" com pessoas humildes e sem esclarecimento.
Queimar lixo está longe de ser um procedimento "saudável", que deva ser incentivado. Concordo.
Porém não é crime e seus efeitos nocivos podem ser extremamente atenuados com regulamentação (horários, condições topográficas, atmosféricas etc), educação e bom senso.
Ou então que se apresente alternativa mais viável. Vamos perguntar ao fiscal?
P.S: Aos leitores mais desavisados, estou falando de um bairro de casas e sítios, na zona rural de uma cidade de 150mil habitantes. Claro que em se tratando de metrópole, mesmo em casas com quintais, o papo é outro!
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Texto de Ivo Fontan