sexta-feira, 16 de março de 2007

Passeata João Hélio

Fomos à caminhada contra a impunidade no dia 10/03 no trajeto onde aconteceu essa tragédia.
Em primeiro lugar: Não imaginava como seria.
Muita gente falou para não irmos com as crianças. Que era arriscado.
Mas nós não estávamos com medo.
As chances de um protesto triste e pacífico como este virar uma praça de guerra e terror é muito mais remota do que a possibilidade de se levar um tiro de bala perdida no Rio de Janeiro. E, apesar deste alto risco, eu saio de casa com meus filhos, sempre. Porque então, nós não iríamos à passeata com eles?
Porque nós não iríamos participar de um ato como este em família?

E lá estávamos, vendo a polícia fechando as ruas, acompanhando a passeata, antes, durante e depois que ela passava. Pena que agora é tarde. Pena que no dia, não havia um policial sequer no trajeto onde essa barbaridade aconteceu.

Pegamos a passeata no meio, pois não conseguimos chegar até onde seria o início. Mas paramos num local calmo, sem problemas, depois retornamos de táxi a este ponto para pegar o carro e voltar para casa.

Ao contrário do que se imagina, um evento como este tem que ter planejamento para que haja um suporte para fechamento de ruas, por exemplo. O único caos foi o trânsito na região. E isso, vá lá, as pessoas têm que ficar quietas e não reclamar.

Ficamos esperando a passeata se aproximar.
E quando chegou, as lágrimas saíam automaticamente dos meus olhos. Foi impossível segurar a emoção sentindo o quanto de dor e sofrimento estava por trás daquela manifestação.
Num momento os olhos da mãe dele, cruzaram os meus, que segurava meu bebê de 1 ano no colo e meu marido segurava nosso outro filho de 2 e meio. Um dos momentos mais tristes da minha vida. As lágrimas corriam no meu rosto.

Durante o trajeto que se alternava em silêncios e gritos e cantos e hinos e rimas pedindo justiça, éramos o tempo todo levados á reflexão e à indignação pelo tamanho do trajeto (7 km é muita coisa), pela quantidade de ruas movimentadas por onde tudo isso aconteceu, pela quantidade de pessoas esperando a passeata passar, como se fosse um desfile, pela falta de policiamento que é uma constante, por tanta coisa que é difícil por em palavras.

Por alto, nós (sem nenhuma experiência) calculamos umas 500 pessoas.
E foi isso que saiu no jornal no dia seguinte, numa pequena nota no alto da página: 500 pessoas.Infelizmente, 500 pessoas é muito pouco.
Minha cunhada acabou de chegar em Madri e havia uma manifestação acontecendo com 300mil pessoas! Nem sei o motivo, mas acredito que ninguém tenha sido arrastado até a morte por lá. Com certeza, temos um motivo tão forte quanto deve ser o deles para mobilizar tantas pessoas, e até mais.
Infelizmente os brasileiros ainda não se deram conta que precisam participar dessas manifestações, que temos que juntar 5 mil, 10 mil, 100 mil pessoas, pelo menos.Andávamos pelas ruas e as pessoas gritavam justiça, rezávamos, cantávamos o hino nacional. O trecho é enorme e a gente fica o tempo todo se perguntando: Ninguém vai fazer nada?

Amanhã pode ser um filho nosso, ou um sobrinho, ou um afilhado, primo...
Porque o João Hélio, além de filho, também é sobrinho, neto, primo de alguém. Exatamente como todos nós.

E como disse o Paulo Coelho, os sinos continuarão dobrando...

“Talvez apenas pedir que os sinos continuem tocando por nós. Dia e noite, noite e dia, até que já não consigamos mais fingir que não estamos escutando, que não é conosco, que estas coisas se passam apenas com os outros. Que estes sinos continuem dobrando, sem nos deixar dormir, nos obrigando a ir até a rua, parar o trânsito, fechar as lojas, desligar as televisões, e dizer: “basta. Não agüento mais estes sinos. Preciso fazer alguma coisa, porque quero de volta a minha paz”. Neste momento, entenderemos que embora culpemos a polícia, os assaltantes, o silêncio, os políticos, o hábito, apenas nós podemos parar estes sinos. ”(PauloCoelho)

Mas eu confesso, ainda não sei exatamente o que fazer.
Passeata adianta?
Abaixo assinado adianta?
E o que adianta?
O que podemos fazer para mudar de fato esta realidade na nossa cidade, no nosso país?

E eu não quero paz. Eu quero é o controle da violência.
Não quero me vestir de branco. Quero me vestir de preto.
E aí, nós não vamos realmente fazer nada?

Se nossos filhos não forem vítimas da violência na infância como acontece com muitos e aconteceu agora com o João Hélio e muitos mais depois deles, vítimas de balas perdidas;

Eles podem ser mortos quando saírem pela primeira vez sozinhos aos 14 anos, como aconteceu com a Gabriela, morta num tiroteio no Metrô;

Ou podem morrer ou ficar aleijado de um tiro, dentro da faculdade, como aconteceu com a jovem Luciana, na Estácio de Sá.

E o índio Pataxó que foi queimado vivo por adolescentes em Brasília? Os criminosos, entre eles, um menor de idade, não eram bandidos e nem “excluídos”. Um era filho de juiz.

Já foi enviado em Março/2006 um abaixo assinado para uma emenda popular propondo uma modificação do código penal. Foram coletadas 1.200.000 assinaturas pelo Movimento Gabrielasoudapaz. Glória Perez conseguiu qualificar o Crime Hediondo.
Mas o projeto está parado porque o abaixo-assinado tinha nome, RG e assinatura. Caiu em exigência porque deve ter o titulo de eleitor e o endereço completo. Usando as palavras da Cleyde, mâe da Gabriela: exigência estapafúrdia e inexeqüível. Veja como você pode ajudar no final do texto.

Me agrada a Redução da Maioridade Penal porque uma pessoa apta a escolher os seus governantes, está apta a ser responsável por seus atos. E há um movimento a favor de um Plebiscito a respeito.
Mas ao mesmo tempo, acho que também os políticos devem ser responsabilizados pela falta de condições básicas de educação porque o menor infrator, também é vítima de uma sociedade injusta. Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?
Por isso, ainda não consigo definir o que realmente será mais efetivo.
Será que para reduzir a maioridade penal não será preciso modificar todo o sistema prisional, hoje tão ineficiente?

A Dep. Marina Magessi-RJ disse numa entrevista que saiu da Polícia para a Política quando se perguntou se ela realmente estava prendendo o algoz.

É uma situação complicada, realmente.

E se alguém tiver uma luz, me indique, eu estou a busca um caminho para fazer alguma coisa.
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Campanha "Ligue, Vote, Assine, Compareça!":

1. Para quem quiser ajudar a votação da Emenda Popular, clique no endereço abaixo e veja os telefones do Alô Senado e Disque-Câmara e ligue pois este tipo de manifestação funciona, segundo informações da Cleyde, mãe da Gabriela.
http://www.gabrielasoudapaz.org/jornal4/images/pg07_jpg.jpg

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2. Convocamos TODOS a participarem,e a realizarem em sua cidade a Caminhada JOÃO HÉLIO! Dia: 10/04Horário: 16H (Concentração)18H (Início da caminhada)Local: Saída (Rio de Janeiro) da Candelária com destino à Cinelândia - Centro RJ
Compareça, sua presença é fundamental.

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