a volta das Forças Armadas às ruas do Rio para "combater a violência".
Não vai adiantar nada, lamento muito a "profecia". O único resultado concreto de mais este factóide é que daqui a alguns meses as tropas estarão de volta aos quartéis, desgastadas perante a opinião pública depois de ter cada passo (sobretudo os eventualmente equivocados) implacavelmente vigiados pela imprensa. Esperem e verão!
Não digo isso com nenhuma alegria. Ao contrário, sinto uma profunda tristeza ao constatar, a cada ação dos chamados poderes institucionais, que a causa verdadeira de toda a degradação social (a violência é apenas um de seus aspectos) continua, e continuará incólume. Me refiro ao absurdo, monstruoso, avassalador processo de FAVELIZAÇÃO que nos destrói aos poucos como câncer em metástase.
Refletindo sobre isso, voltei na memória aos meus tempos de garoto e rapaz lá no subúrbio do Rio. Mais especificamente lembrei-me de uma manhã de domingo em que resolvemos, eu e um grupo de amigos, fazer um passeio pelos morros que circundavam o nosso bairro (Vila Kosmos, um então sossegado enclave entre Vicente de Carvalho e a Vila da Penha. Desbravando as trilhas do morro chamado por nós de "pedra bicuda" (parte da Serra da Misericórdia, sistema montanhoso quase desconhecido da maioria dos cariocas), caminhamos pelas cristas e em pouco tempo chegávamos nas proximidades da igreja da Penha (calculo que tenhamos passado por alguns dos locais atualmente usados por bandidos para execuções, inclusive a loca de pedra conhecida como "microondas" onde foi martirizado o Tim Lopes).
Nossa "aventura" durou umas quatro ou cinco horas, e rendeu sensações maravilhosas. Passamos por locais de onde não se tinha nem idéia de que estávamos no coração da segunda metrópole do país. Comemos frutas colhidas nos pés, contemplamos pássaros e animais silvestres e avistamos inícios de ocupações provavelmente irregulares que seriam embriões de... FAVELAS!
À noite, na pracinha do bairro, nos encontramos, como de praxe e conversamos sobre tudo o que vimos e aprendemos naquele dia. Lembro-me que o que mais intrigava a todos nós era o desconhecimento da existência de toda aquela vasta e bela região por parte dos habitantes "lá do asfalto". Em outras ocasiões posteriores fizemos outras incursões e constatamos que aqueles caminhos interligavam uma enorme região do subúrbio e que por eles chegávamos, além da Penha, a Olaria, Ramos, Bonsucesso, Inhaúma, Del Castilho, Tomás Coelho dentre outros, sem cruzarmos uma única rua ou avenida.
Já mais velho, conhecendo melhor a cidade, constatei que o fenômeno que eu havia percebido ali se repetia por toda a geografia acidentada ( e bela! ) da metrópole. Em todos os bairros, do mais distante subúrbio à sofisticada zona sul, haviam os indefectíveis morros, frequentados, na maioria dos casos, apenas por garotos em busca de aventuras, caçadores de passarinhos, vagabundos e... POSSEIROS!
Uma inacreditável combinação de: "cegueira", por parte dos moradores "do asfalto"; incompetência e descaso do poder público; esperteza de alguns e miséria de muitos, levou à conquista e ocupação desses espaços pela instituição urbano-contemporânea conhecida como FAVELA. Os morros da minha juventude, por exemplo, hoje são conhecidos (e temidos) por nomes como Juramento, Grota, Cruzeiro, Alemão, Adeus, dentre outros.
Não me entendam mal, minha garotice/juventude transcorreu lá pelo fim dos anos "dourados" início dos "rebeldes" (60/70), e é claro que já haviam favelas. É claro também que nelas rolava marginalidade, bagulho, pó, birita, samba e futebol...
Continua na próxima postagem
_____________________________________________________
IVO FONTAN
3 comentários:
É Ivo, a situação hoje é a mesma onde não há favela porque o governo permite que elas se instalem. Vide Rio das Pedras em jacarepaguá. Não precisa mais nem ter morro. Certz a vez, num táxi, passando pela Grajaú-jacarepaguá, passou 1 adolescente com um rifle ou fuzil na mão e o motorista esbravejou: isso não é desabrigado. Isso é desobrigado. Desobrigado de pagar imposto, de pagar água, de pagar luz...
Mas tem muita gente boa nas favelas também!
O comentário do caríssimo anônimo parece pressupor que eu tenha dito (ou insinuado) que NÃO HÁ GENTE BOA NAS FAVELAS!
Em que parte do texto eu digo (ou insinuo) isto?
Se o caríssimo me der a honra de continuar lendo as próximas postagens relativas ao tema verá que eu não questiono a existência de gente boa nas favelas, AO CONTRÁRIO!
Não só reconheço como preconizo que as pessoas de bem que vivem nas favelas TÊM O DIREITO de deixar de ser FAVELADOS e serem integrados à PLENA CIDADANIA.
Já os BANDIDOS e OPORTUNISTAS...
Bem, continue lendo.
E obrigado por comentar.
Postar um comentário