quinta-feira, 12 de abril de 2007

Davi e Golias

A HISTÓRIA MODERNA DE DAVI E GOLIAS


Historinha 1: Há alguns anos eu conheci uma moça, na cidade de Três Rios (interior do estado), que fabricava, literalmente nos fundos de casa, BATATAS FRITAS tipo "chip". Sabem qual era a diferença entre a batata desta moça e as demais encontradas no mercado (fabricadas pelas gigantes da indústria alimentícia)? Era muito mais gostosa (e certamente mais saudável, na medida em que batata frita pode ser saudável, claro).
Sabem o que aconteceu com a fabriqueta dessa moça? Pois é, já adivinharam, não é mesmo? Faliu!

Claro, não havia a menor chance dela competir com a "batata da onda", com os preços, a logística e a propaganda dos gigantes!
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Historinha 2: Um conhecido meu se meteu a fabricar pizzas semi processadas. Montou sua "fabriqueta" em Teresópolis, contratou meia dúzia de empregados e começou a produzir. Para ter um volume de produção e vendas que suportasse seu investimento procurou a principal "rede de supermercados" da região. Primeira surpresa: A primeira remessa de produto teria que ser DADA ao mercado! Pensam que é só isso? Não, além de DAR o produto ele teria que PAGAR ao mercado para ter sua mercadoria nas gôndolas! Ele fez isso. Bancou. Aí veio a segunda surpresa. Antes de um mês o seu produto havia "desaparecido" da gôndola. Vendido? não, ESCONDIDO na parte mais alta e ATRÁS das pizzas do "concorrente" (não precisa dizer - um gigante). Sabem o que aconteceu com a fábrica do meu conhecido? Adivinhou!


A prática é corrente ainda hoje nas redes de supermercado!


Estas pequenas e verídicas historinhas podem ser recontadas ad infinitum, trocando o produto e o local. É a globalização, dirão os mais pragmáticos. É o ponto chave de nossa desgraça, direi eu. E explico.

Onde quer que você vá, em (quase) qualquer ponto do planeta, você consome as mesmas coisas (alimentos ou não). A indústria local, de pequeno porte, está em processo de agonia, devorada impiedosamente pelos gigantes (aliás, até mesmo alguns gigantes devoram outros!). Esses gigantes nos enredam, seduzem, tornam-nos verdadeiros "escravos" de seus produtos.

Paralelamente vão dizimando toda e qualquer tentativa de se lhes fazer concorrência. Para isso contam com a cumplicidade ou o beneplácito de parcelas poderosas da sociedade (os grandes comerciantes, por exemplo, que também, por sua vez, "engolem" os pequenos comerciantes).
As consequências disso vão muito além do que se percebe numa rápida análise. Nesse processo são gerados: desemprego (1000 pequenas empresas empregam muito mais do que 1 gigante que produza o equivalente às mil); concentração de riquezas; descaracterização e empobrecimento cultural; disseminação do consumo de matérias primas nocivas à saúde (gorduras TRANS, para ficarmos apenas em uma); degradação ambiental inerente às grandes instalações fabris, etc.

Isso tem jeito? Tem retorno? Eu acredito que não!
No entanto, mesmo sendo gota no oceano, eu sempre que vou às compras nunca perco a oportunidade de substituir produtos de gigantes por outros de pequenos fabricantes.

Já experimentou fazer isso? Pois comece. Garanto que você vai ter agradáveis surpresas!
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por IVO FONTAN

7 comentários:

Ana Cláudia disse...

Ivo,

eu também procuro sempre novas alternativas aos grandes monopólios que temos. Fico passada com o CADE que deixa empresas como a Nestlé comprar a Garoto, por exemplo.
Mas há luz no fim do túnel. No jornal de domingo, 08/04, saiu uma matéria falando que pequenos empresários criaram uma entidade de apoio mútuo. Chama-se ConfraRio e foi criada para que os participantes possam se reunir e debater problemas comuns, apontar alternativas e desenhar oportunidades. Contatos e informações: confrario@confrario.com.br

Taí, a sociedade se mobilizando para ter voz ativa.

Silvia D. Schiros disse...

Ivo e Ana, excelente reflexão. A turma a favor do desenvolvimento sustentável defende que façamos nossas compras junto aos produtores locais, o que significa, além de distribuir renda, menor impacto ambiental, por diversos motivos. Consigo pensar em dois deles agora: produtos mais saudáveis (a gente pode procurar pequenos produtores que cultivem orgânicos e pode ver de perto se eles fazem mesmo ou não o que pregam) e menos poluição, considerando que diminui a necessidade de transporte de uma cidade, de um estado ou de um país para outro.

Anônimo disse...

Além de tudo o que foi dito a gente usar os produtos de pequenos produtores faz com que a concorrência aumente e em muitos casos, os preços caem.

Anônimo disse...

Bem lembrado, meu caro anônimo, ainda tem isso...

Ana Cláudia disse...

Você mencionou a questão das pequenas indústrias terem que DAR os produtos para entrar em grandes redes.
Isso é verídico.
Já vi uma excelente fábrica de Guaraná Natural falir por causa disso. O mercado comprava 500 caixas e eles tinham que BONIFICAR mais 500 caixas. Isso durante 3 meses. Todo pedido, uma bonifocação.
Nem preciso dizer que os lucros não surportaram os custos.

Anônimo disse...

Dicas sobre laticínios de excelente qualidade e saborosos:
A maioria dos produtos das pequenas COOPERATIVAS de cidades do interior (Cordeiro, Cantagalo, Macuco, Carmo, Bom Jardim, etc. Para falarmos apenas de algumas de municípios do Rio).
O provolone de Bom Jardim é divino!
A manteiga de Macuco é maravilhosa!

Cosmunicando disse...

Ivo,
aqui em Floripa os melhores laticínios são de produtores locais mesmo. Pelo menos nesse ítem os supermercados ainda prestigiam os locais... mas adorei o artigo, porque nos coloca frente a uma reflexão que muitas vezes não fazemos na hora da compra.
Obrigada e parabéns!

Beijinhos para Ana e Cristiane tb.
Meninas, obrigada por linkarem minha página! Vocês são demais!