sexta-feira, 20 de julho de 2007

DESERTOS VERDES

Chamou-me a atenção uma notícia publicada nos jornais de (30/05): O Projeto Agro-florestal do Palmito Pupunha, que será implantado no município de Silva Jardim. São "florestas" de pupunheiras que serão plantadas com objetivo de gerar renda para pequenos agricultores e proteger áreas de risco ambiental. No projeto estão, além do Ministério do Desenvolvimento Agrário, instituições como UFRJ, Senac, Universidade Estácio de Sá e ESDI.

Grifei a parte da "proteção de áreas de risco ambiental" para chamar a atenção para o fato de que, finalmente o estado está superando uma falácia.

Por muitas e muitas décadas o estado do Rio viu suas florestas serem dizimadas, pela especulação imobiliária, extrativismo, pecuária ou mesmo puro vandalismo, sem falar nos ciclos do café e da cana, que iniciaram o processo. Enquanto a moto-serra, o machado e o fogo "comiam soltos", os "ecologistas de plantão" sonhavam com utopias de retorno à Mata Atlântica da época do descobrimento! Sem levar em conta que "progresso", "desenvolvimento" e "crescimento" tem um preço (e que a NATUREZA é parte indissociável deste preço), muito tempo foi perdido com essas utopias enquanto ações efetivas de minimização ou amortização deste preço deixaram de ser tomadas.

Um dos alvos preferenciais destes utópicos foi, durante muito tempo, a silvicultura. O termo DESERTO VERDE foi cunhado para "vender" a idéia de que projetos de silvicultura representavam O MESMO que a depredação pura e simples das florestas nativas. NÃO É. Estudos científicos, muitos levados a termo até mesmo por entidades de cunho ambientalista, já comprovaram que, mesmo em florestas homogêneas (silvicultura), ocorre o repovoamento de parte da fauna original.

A questão, que temos de encarar de frente, sem utopias, é que não é possível conciliar as necessidades do mundo de hoje com a exuberância da hiléia de um passado que não tem como voltar. Se queremos preservar o que ainda resta ( e, até mesmo, reconquistar um pouco do que foi perdido ), temos que ser realistas e, sobretudo, inteligentes. As floresta homogêneas, sob controle, com planejamento e integradas às demandas sociais e econômicas de cada região são parte desta solução. É muito mais fácil controlar, por exemplo, a obediência às leis que determinam percentuais de preservação e replantio de florestas nativas em uma área de silvicultura do que em centenas ou milhares de pequenas propriedades. Diminuem as possibilidades de fraudes e facilita a fiscalização.

Não vejo a hora de pegar meu carro e viajar para a região noroeste (a mais degradada do estado) e contemplar florestas de eucalipto, pupunhas, aroeiras, mamonas, pinheiros etc, áreas de fruticultura e olericultura, (e pastos também, por que não?), intercaladas com mata atlântica, onde hoje só se vê capoeirais, capim-gordura, pedra, erosão, formigueiros...E jovens sem perspectiva!


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Texto de Ivo Fontan

5 comentários:

Ana Cláudia disse...

É, Ivo.
Temos que ver as coisas de maneira séria.Inclusive porque as pessoas precisam comer e viver.
Não adianta ficar sonhando com matas que não voltam mais.Voltar a andar de carroça está fora de cogitação, não há mais como revertar a quantidade de carros existentes. Precisamos de soluções efetivas que integrem preservação e progresso.
Porque por mais que demos um ou dois passos para trás, é prá frente que se anda.

Anônimo disse...

Pasto é ecológico?

Anônimo disse...

Depende do ponto de vista. Há quem prefira o gado criado em confinamento e alimentado exclusivamente de ração, como em quase toda a Europa.
Prá mim, pasto é indicativo de ATIVIDADE ECONÔMICA, ao contrário de áreas degradadas por erosão; capoeirões; macegas...
Aliás, é graças à existência de pastos que o nosso interior ainda consegue manter uma indústria de LATICÍNIOS que, brigando de "anão para gigante" com as poderosas transnacionais, ainda consegue dar emprego a muita gente.

Anônimo disse...

Tudo com equilíbro, sempre. :-)
Fiquei com algumas dúvidas, o que é macegas? rsrsr E lembro das aulas de geografias e para mim deserto verde era as plantações da indústria de papel, já que eucalíptos são mais agressivos com a terra, certo? Bem, enfim... Com relação ao palmito, sou a favor, pq lembro que em Caçapava a luta é enorme para preservar um pedacinho do bosque de palmital que tinha lá, mas a depredação estava destruindo cada vez mais. Quem sabe com a produção controlada melhore para as nativas.
Tem coisas que nem podem ser plantadas só elas, lembro de um exemplo nas aulas, sobre as seringueiras, que tentaram fazer plantações só delas, na época do auge da borracha e elas pereceram, pois cresciam melhor no meio de outras árvores (como o cacau, outro exemplo)... Seria legal equilibrar tudo isso. E ainda ter áreas de preservação radical, como beiras de rios, para evitar assoramento etc.
Bjoks
Paula

Anônimo disse...

Meus caros Paula e Leos.
Antes de mais nada sejam bem vindos!
Como eu disse no texto, a "civilização humana" tem um preço, e a NATUREZA" é parte indissociável deste preço. As opções são: Reduzirmos nosso número e condições de vida a níveis tribais e então sim, coexistirmos em "plena harmonia com a natureza".
Ou
Encontrarmos uma maneira de "agredir o mínimo possível", encontrando um equilíbrio entre predação e produção, que privilegie o segundo!
Aí entra o eucalipto! É fácil abraçar teses de que esta espécie arbórea alienígena (australiana) é "uma praga". No entanto, nenhum de nós se imagina vivendo num mundo com restrições na demanda por PAPEL e AÇO.
Se não fosse o eucalipto fornecendo celulose e carvão para estas duas indústrias, JÁ TERÍAMOS CONSUMIDO TUDO O QUE RESTA DE MATA ATLÂNTICA E BOA PARTE DA AMAZÔNIA (e, de quebra, do CERRADO) para produzir o que produzimos nos últimos 50 anos!
É brabo, né? Mas é!!!
Macegas, meus caros, são aqueles murundus de capim e arbustos secos que costumam tomar conta de áreas degradadas. Geralmente nem para pasto servem e, tampouco são eco-sistema relevante para fauna.