Era a realização de um sonho de vida. Minha casa, de madeira, com quintal, varanda, jardim...
A floresta exuberante “lambendo” o quintal. Meus filhos soltos, andando de bicicleta na rua de terra.
A noite o aconchego da lareira, o coral dos sapos. De dia os pássaros, as cores, os cheiros.
E, naturalmente, a horta!
Claro, tudo isso sem uma horta para colher meus próprios alfaces, couves, tomates, não seria a realização completa de meus sonhos.
Tudo ia muito bem até o dia em que resolvi cultivar... morangos!
Nunca antes havia visto um pé de morango na vida. E daí?. Comprei as mudinhas, preparei o canteiro e iniciei a plantação já me sentindo o maior produtor do pedaço.
Tudo foi bem. Os moranguinhos surgiram. A primeira leva eu comi todinha antes mesmo que eles atingissem o tamanho e a doçura ideais. Veio a segunda e, com um pouquinho mais de paciência eu saboreei frutas mais gostosas. Assim foi até um dia em que me deparei com elas!
Estavam lá, formando uma fila serpenteante pelo canteiro. Cada uma com um pedacinho de folha engastalhado em cima da cabeça, carregando, de forma organizada, todo o meu morangal sei lá para onde!
Eu não acreditei no que via. As formigas estavam dizimando minha plantação de morangos.
Calma, disse para mim mesmo. Isso faz parte da vida no campo. Vamos enfrentar o problema. Sem fazer mal às pobrezinhas que só estavam fazendo o que a natureza lhes determinava, fiz de tudo para enganá-las e desviá-las para outras “comidas” menos nobres. Induzi a fila para a direção da amoreira, das ervas daninhas e, até mesmo das couves! No dia seguinte lá estavam elas de novo. Metade das folhinhas já tinham ido. Negociei com elas. Os alfaces! Tudo bem, um canteiro de alfaces inteirinhos, em troca dos morangos.
No dia seguinte adivinhem! Perdi as estribeiras. É guerra? então vamolá. Lancei mão de todo o arsenal de que dispunha: limão, vinagre, água de fumo, sabão de coco, inseticida. Parti prá porrada!
No dia seguinte... Perdi! Não tinha mais uma única folha. Meu morangal parecia uma plantação de alfinetes. Só tinha os talinhos. E as malditas, certamente morrendo de rir de mim, já não estavam mais lá. Fiquei desolado. Nem tive coragem de desfazer o canteiro. Deixei os alfinetes lá e passei a cuidar das couves e dos alfaces, desprezadas pelos monstrinhos. Algum tempo depois novas folhinhas começaram a surgir. Dali vieram as flores, os frutinhos e... acreditem, a safra de morangos que veio foi, de longe, a mais extraordinária. Frutos enormes, enjoados de tão doces, abundantes!
Dali em diante eu ficava torcendo para as pestinhas aparecerem!
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Texto de Ivo Fontan
terça-feira, 3 de julho de 2007
OS MORANGOS E AS FORMIGAS
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7 comentários:
É a natureza sabe o que faz. As vezes temos que fazer como o Ivo, não lutar contra ela, mas ser aliada.
É isso aí Ivo. Adorei o post.
Abraços
Que história legal de ser contada, Ivo.
Acho que dispensa qualquer comentário ainda mais depois do que disse a Cris.
Falar mais o quê?
Bom dia.
Achei exelente este texto.
Tenho o mesmo sonho do Ivo e levarei comigo este ensinamento.
Abraços,
Álvaro Ramos
Muito legal este texto. Fiquei até interessada em plantar morangos. Alguém pode me dar dicas?
Aline
É muito simples, Aline, voeê pode cultivar até em apartamento, em jardineiras. Basta comprar as mudinhas em qualquer horto e plantar numa terra bem adubada e úmida.
Há duas exigências:1) O clima tem de ser ameno. Não pode ser muito quente;
2) Quando as frutinhas começarem a nascer você tem que impedir que elas tenham contato direto com a terra, pois apodrecem antes de amadurecer. Isso pode ser feito colocando pedacinhos de plástico entre os cachinhos e a terra.
É muito bom comer os morangos que a gente mesmo cultiva, pois os que estão no comércio costumam ter cargas monumentais de agrotóxicos.
Amigos,
A Lia Bock do Blog do Planeta postou sobre os benefícios da comida orgânica e citou a história dos morangos!
http://www.blogdoplaneta.globolog.com.br/#318130
Obrigada, Ivo, por partilhar conosco essa maravilhosa hstória da vida real. E natural!
Boa colheita.
Não exagere na rega, eles não gostam de água em excesso.
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