terça-feira, 24 de julho de 2007

Educação - Como é que é? - Parte 1

Dia desses estava acompanhando no Programa do Jô uma entrevista com o Ministro da Educação do Brasil Fernando Haddad e achei bem interessante as propostas e trabalho que ele está realizando (ou querendo realizar), aí apareceu a dúvida, como isto funciona aqui nos Estados Unidos. Meu filho que hoje tem 3 anos e 4 meses ainda não está em idade para frequentar a escola daqui, mas fiquei muito curiosa, até porque estou sempre ouvindo dos brasileiros que aqui a educação é mais lenta, mais longa e mais fácil.

Sempre que ouço estas afirmações surge uma dúvida em minha cabeça. Por que então este país é considerado o maior do mundo? Porquê suas pesquisas são sempre mais avançadas? Talvez porque muitos estrangeiros é que fazem o país ser o que ele é? Talvez porque ele tem muito dinheiro? Ou talvez seja por ele investir mais na educação básica, de forma mais lenta, sempre repetindo as matérias básicas para que a fixação seja maior.


Não estou sou capacitada para comparar o sistema educacional americano com o brasileiro, mas é possível conhecê-lo um pouco mais e comentar sobre o que acho que seria ótimo para meu filho caso ainda morássemos no Brasil .

Cada Estado aqui tem o seu MEC, que criam as diretrizes que todas as cidades devem acatar, e
uma dessas que eu acho muito interessante é que as escolas atendem as áreas demarcadas por um perímetro e quem estiver dentro deste perímetro será atendido pela escola. Para os alunos que moram mais distantes existe o apoio do transporte escolar que é gratuito, isto não impede que os pais ou responsáveis levem seus filhos para a escola, agora, mesmo que você queira mudar de escola só poderá fazê-lo para outra que esteja dentro de sua área de atendimento, a não ser que você mude de endereço.

Existem algumas similaridades no formato do ensino daqui com o Brasileiro, pelo menos até o ensino fundamental que seria até a 5ª série (Elementary school), depois disto no ensino médio , que compreende da 6ª a 8ª séries (Middle school) começam as diferenças e uma grande é que o aluno pode escolher as matérias que ele quer estudar (com exceção das obrigatórias) se repetindo este formato no 2º grau (High school). Já para entrar na universidade você precisa fazer um exame chamado SAT – SCOLASTIC ACHIEVEMENT TEST como o provão que o MEC aplica no Brasil, dependo da pontuação do aluno ele procura a faculdade que ele quer. As melhores exigem pontuação alta, tanto faz se a universidade é pública ou privada.

O departamento de Educação do Estado fornece pela internet informações de como e com que
gastou o dinheiro destinado as escolas. São muitas informações que você pode obter no site, como por exemplo: que formação tem os funcionários das escolas, quantos alunos foram expulsos, média de notas e dependendo da escola, também salários e benefícios dos funcionários, não a nível detalhado, mas está lá.

Parte da verba que é destinada as escolas vem dos impostos que as empresas localizadas na cidade pagam. Quanto mais empresas, mais rica a escola é, até porque a sonegação de impostos aqui é bem baixa. Existe uma cidade perto da minha onde está localizada a Sony e nas escolas de lá todos os alunos possuem um lap top. Eles podem levá-lo para casa e assim não precisam carregar muito material e estão sempre atualizados. Bom né?

Eu me recordo bem de quando fazia o primeiro grau em uma escola municipal e terminei a 8ª série sem ter tido aulas de matemática por quase 6 meses, cheguei ao 2º grau totalmente despreparada e claro fiquei em dependência nesta matéria (a sorte é que fiz o curso em uma escola particular o que possibilitou que eu tivesse uma instrução mais reforçada e recuperasse o tempo perdido).

Mas o legal daqui é que tenha você uma boa ou não tão boa condição financeira o seu filho tem direito a educação pública. O interesse é que todos tenham o mesmo nível. O tempo que os alunos passam dentro da escola também é muito maior, chegando a uma média de 7 horas por dia. Isto eu acho muito bom pois assim a criança tem bastante tempo para estudar dentro de um ambiente propício (alguém lembrou do Brizolão?), além de atividades extra-curriculares. O filho de uma amiga brasileira que mora aqui tem aulas de violino!

Outra coisa muito legal é que toda a área externa das escolas é liberada para uso da comunidade. Os campos de jogos, os pátios, os brinquedos, tudo. Sem vandalismo e sem vigias. No começo eu até ficava desconfiada achando que se eu entrasse ali com certeza alguém viria brigar comigo. Como todo bom brasileiro achava que a esmola era muito grande. Mas se a gente se acostuma com as coisas ruins imagine com as boas.

Como eu já comentei antes os brasileiros acham que a educação aqui é mais lenta do que a do Brasil e que muitas matérias são exaustivamente repetidas durante anos. Por um lado eu até entendo esta reclamação mas eu penso de outra forma. Repetir alguns ensinos básicos durante alguns anos reforçam o aprendizado. Não tem um ditado que diz “o Hábito faz o monge” ? eu acho que é por aí. Quanto mais se treina, melhor o resultado.

Fez um ano que estou aqui e ainda tenho que aprender muita coisa, mas uma das que já aprendi é que muita coisa no Brasil poderia ser melhor. Ficamos sabendo todos os dias que faltam professores no Brasil, os formados não se interessam em dar aulas ou então não existem formados suficientes de uma determinada matéria.
Falta investimento? Falta incentivo? Falta a união dos cidadãos em solicitar seus direitos? (ver matéria do jornal nacional = pesquisa sobre ensino no Brasil).

Não sei, mas aqui conheci um americano casado com uma brasileira, e que tem ascendência italiana e que aos 25 anos já é professor de uma escola pública em New Jersey (Ridgiefield Memoral High School). Ele me contou um pouco como é seu trabalho, em um bate-papo que tivemos e que transcrevo no próximo post.

Leia mais: Educação - Como é que é? - Parte 2

Texto de Cristiane A. Fetter

5 comentários:

Anônimo disse...

Cristiane,

eu acho que temos muito ainda para discutir sobre a educação no Brasil. Infelizmente, poucas pessoas olham em volta para ver o que os outros estão fazendo de melhor e em como podemos melhorar o nosso com o exemplo dos outros.
Nenhuma nação é perfeita, mas todas devem ter algo bom que podemos aproveitar. Detesto os EUA, não gosto da cultura americana, do american way of life, mas admito que muita coisa eles fazem com alto padrão de qualidade. Isso que v mencionou sobre o campus ser aberto é sensacional. Aqui no Rio a UFRJ é um deserto. Pessoas são assaltadas e até estupradas no campus da universidade. Tenho certeza que além do acesso, a beleza e a conservação também devem ser nota mil aí.

Anônimo disse...

Cristiane
Você tocou num ponto, lá no início do texto, que, se não é, por si, a razão de tantas diferenças entre "nós" e "eles", com certeza ajuda bastante a compreendê-las.
Você disse que "cada estado tem o seu MEC".
Não só o seu MEC, como o seu "ministério da saúde"; "dos transportes"; "da justiça" e por aí a fora. Isso porque eles são uma
República formada por "Estados Unidos", Isso não é apenas uma força de expressão, é um fato!
Diferente de nós, os estados americanos possuem real autonomia para se "auto governar", respeitando os preceitos de uma Constituição simples, objetiva e enxuta.
Nós, ao contrário, somos uma nação gigantesca governada DE FATO por um poder central, onde os ESTADOS não passam de unidades administrativas menos importantes até (para a vida dos habitantes) do que os MUNICÍPIOS.
Essa estrutura gera muitas coisas indesejáveis, como, burocracia exagerada; lentidão; inadequação de medidas e decisões etc.
Basta ver a verdadeira "viagem" que fazem os tributos, arrecadados dentro dos estados, repassados à União e redistribuídos aos estados segundo critérios estabelecidos pelo governo federal.
É claro que há razões históricas para essas diferenças, mas penso que nossa evolução como nação passa necessariamente pela mudança deste tipo de "federação", aproximando-nos, o mais possível, de um modelo de (não DOS) "Estados Unidos".

Cristiane A. Fetter disse...

Tanto o anônimo quanto o Ivo disseram coisas certissimas, temos muito que aprender e se pudermos copiar de quem faz de uma forma mais correta e com ótimos resultados, melhor ainda.
Eu acredito que deveria haver uma intercâmbio de educação entre os países, tanto os que acertam como os que erram.
Mas fazer o que, como o Ivo mesmo disse no Brasil tudo é centralizado e a meu ver a roubalheira também, nunca sobra nada para algumas áreas importantes de setem investidas.
Mas também acho que a participação dos pais é fundamental.
Temos no sul do país (Brasil) muitos exemplos de sucesso.
Pq lá dá certo?
Alguém sabe?

Tais Vinha disse...

Muito bom este seu texto, Cristiane. É um sistema educacional muito diferente do nosso. Mais rico e estruturado. Mas alguns amigos com filhos em escolas americanas apontam um problema grande de massificação, principalmente comportamental. Há um esforço enorme em enquadrar as crianças para que elas se comportem bem e ajam dentro do esperado. Até prêmio de Student of the Month para os mais dedicados e certinhos eles têm. O filho de uma amiga, que sempre estudou em escolas alternativas brasileiras, está tendo muita dificuldade em se adaptar ao sistema americano e já foi diagnosticado como portador de déficit de atenção. Isto é, o problema não é da escola ou do professor. É dele e dos pais! Acho isto sério e preocupante.
Crianças diferentes devem se sentir meio "loosers" neste sistema. Bjs

Cristiane A. Fetter disse...

Desculpe a demora em responder ao seu comentário, mas voce sabia que a maioria dos brasileiros que eu conheço reclamam do ensino americano.
Dizem que ele é muito lento, que as coisas poderiam ser mais rápidas e tal, eu acredito mais neste sistema mais demorado, assim fica mais enraizado os ensinamentos do que a rapidez com que é ensinado no Brasil.
Aqui na cidade onde moro eles tem um olho bem clínico e usam de lupa com os alunos, tanto é que a cidade tem uma super valorização das escolas públicas.
Mas o que eu realmente gostaria de salientar é a qualidade, o respeito com os professores e o que é oferecido em relação aos colégios públicos brasileiros.
Sem contar que o salário dos professores é em outro nível, nada comparado ao sistema Brazuca, o que eu acho uma pena já que sem educação não há condição.