quinta-feira, 26 de julho de 2007

Educação - Como é que é? - Parte 2

Continuando o tema do post anterior, abaixo segue o bate papo com o professor americano:

Seu nome é Brian Edward Sansanelli, e o que mais me chamou a atençao foi o fato de uma pessoa tão jovem se dedicar a ensinar uma matéria que normalmente ninguém gosta que é a matemática. Formado pela Dominican College em Nova Iorque ele ministra aulas desta matéria para alunos que no Brasil estariam no 2º grau. Foi contratado pela escola pública de uma forma que no Brasil não se faz. Ela anuncia nos classificados a vaga, o interessado envia o currículo com uma carta de apresentação, sendo aprovado faz-se uma entrevista com o diretor da escola e o professor responsável pelo programa da matéria escolhida e uma com o superintendente das escolas da cidade. Finalmente ela “dá” uma “pré-aula” de 45 minutos em uma sala de aula com a supervisão do diretor, professor responsável pela matéria, vice-diretor e o atual professor da classe a receber a aula.

Incentivado pela escola a estar sempre se reciclando ele consegue estar atualizado, tendo em vista que o apoio dela vem em forma de dinheiro, até porque o professor é obrigado a apresentar 100 horas de educação continuada a cada 5 anos e depois de 250 horas eles recebem um aumento de salário.

Fantástico!, não é emprego público, não tem garantia nenhuma, por isto é necessário que o professor goste do que faz e seja bom nisso, se não ele será demitido. Não poderia ser assim no Brasil? O ensino não seria melhor, devido a concorrência na disputa das vagas, como acontece com as empresas privadas?

Ele me disse que trabalha de 8:00 as 14:45 . Sendo 1 hora e meia de preparação de aula e ½ hora de lanche. Também pode ter extra ajuda (programas após a aula) e tutor (opcional) que pode ser indicados pelo professor ou solicitado pelo ano. Que durante o ano os funcionários tem 3 semanas de férias (1 em dezembro Holliday break, 1 em fevereiro – Winter break e uma em abril – Spring break), sem contas as famosas férias de verão que aqui começam em junho e vão até setembro. Estas últimas NÃO SÃO REMUNERADAS PELA ESCOLA.

Para a matéria que ele leciona geralmente os alunos são divididos em 2 classes chamadas
“honors”, “college prep” e “average” . Para ir para a classe avançada (honors) o aluno precisa obter uma carta de recomendação feita pelo professor alegando que ele será está capacitado para tal. Existe uma análise de notas obtidas, partipação em classe, etc, sem contar que as notas dos alunos são enviadas pelo correio aos pais.

Uma coisa que ele disse e que eu acho que enriquece muito a vida da criança é quantidade de estrangeiros ou filhos de, que frequentas a escola. Ele disse que desde que começou a lecionar a maioria de meus alunos são koreanos. Em 1980 a maioria dos estudantes eram italianos e poloneses, hoje a etinia é diversa 45% koreanos, e o restante poloneses, italianos, croatas, espanhois e alguns brasileiros.

Agora uma das melhores informações que tive foi da participação dos pais/comunidade junto a escola. O Brian comentou que a cada ano acontece uma eleição de pais para participar do “Board of education”, os pais eleitos influenciam em todas as decisões da escola, em contra partida a escola faz eventos esportivos, musicais, peças de teatro entre outros. Uma vez ao ano a escola em que ele trabalha faz um “mutirão de limpeza” onde os alunos ajudar a limpar a cidade. Pais brasileiros participem mais, encham o saco de quem administra o colégio de seu filho, seja público ou particular. Vai dar resultado.

Apesar de não conhecer muito sobre o ensino em outros países este professor sabe que em alguns países não há incentivo para os alunos cursarem faculdade diante da situação financeira que os obriga a trocar a escola pelo trabalho.

O que já aconteceu de mais engraçado até hoje em sua carreira de professor? Esta foi uma dentre as perguntas que fiz ao Brian, e a resposta foi: O ano passado no “halloween” me vesti de pato Donald e lecionei o dia todo com a minha fantasia. Também teve a vez em que dois alunos me pegaram no colo e saíram correndo me carregando pelo corredor quando o alarme de incêndio tocou avisando que todos deveriam sair da classe, só que era treinamento.

Acredito que infelizmente para a maioria dos professores do ensino público brasileiro, bem como para os alunos, se eles tivessem que escolher uma fantasia esta seria de palhaço, ou isto será realidade?

Leia mais:Educação - Como é que é? - Parte 1


Texto de Cristiane A. Fetter

7 comentários:

Rita de Cassia disse...

Tenho duas crianças estudando em escola pública, eu estudei também. Não conseguí ainda um "nome" para o sentimento que me corrói...o descaso é grande(das autoridades, do Mec, sei lá!)Há problemas com a merenda: ela acaba antes de licitarem uma nova remessa. Pedidos para complementar a merenda, são feitos e qdo. ela chega, já faltou outra coisa. Há matérias básicas sem professor, como: matemática, português, física, química. Não tem biblioteca na escola. Professores pedem trabalhos com pesquisas na internet... a escola não tem computador. Minha menina de sete anos está na alfabetização - 1ª série, os livros que na capa tem em letras grandes Alfabetização, estão cheios de textos, pra quem lê? Ainda bem que a professora dela, têm boa vontade de criou uma Cartilha e está alfabetizando os alunos. Mas quem escolhe tais livros? Eu já chorei, já implorei, já passei e-mails até para o presidente... as respostas que recebo me fazem pensar que eles devem ter estudado nesta escola, porque não conseguem entender o texto que escrevo. As respostas são vagas e o inacreditável, todas parecidas umas com as outras. O que tenho feito é (Como não tenho condições de colocá-las em escola particular é incentivar o máximo que posso a leitura, o pensar, o criar... quem sabe elas não conseguem?

Cristiane A. Fetter disse...

Sonhos, eu acho que a gente não tem que desistir. Como eu disse também passei por isso quando estudei em escola pública. Só que naquele tempo meus pais não tinham esta consciencia de reivindicar alguma coisa, aliás tinham até medo.
É besteira perguntar se você já conversou com outras mães? Quem sabe elas não tem o mesmo sentimento e juntas vocês tem mais força junto a diretoria do colégio.
Outra coisa que acho interessane é usar a imprensa como instrumento. Reclame com os telejornais, eles adoram estas matérias. Escreva para os jornais.
Monte um dossiê e apresente a quem responder a seus apelos.
Com certeza algum retorno você terá.
Boa sorte.
Abraços

Ana Cláudia disse...

Eu ainda não tenho conhecimento prático nenhum para debater esse assunto mas o pouco que vejo é que como em todas as áreas, nossos profissionais são totalmente despreparados. O despreparo no Brasil é generalizado.

As poucas escolas que já pesquisei, algumas nem sabiam informar a linha pedagógica que seguem.

Gostei muito do tema , dos comentários do Ivo (que como educador pode falar com propriedade) e acho que a Cris deu uma ótima sugestão para nssa amiga.
COLOCAR A BOCA NO MUNDO.

Quando criamos este blog, criamos pensando nisso, em falar, em aglomerar pessoas que pensam como nós.

Pense em alguma ferramenta que você possa usar ara agregar mais pais insatisfeitos. Procure a Associação de Pais e Mestres da escola, frequente a reunião de pais, se tiver. Descubra como participar das atividades da escola para que você tenha acesso fácil a outros pais e docentes.
Sei que muitas vezes parece desanimador e que nada resolve, mas não podemos nos entregar e aceitar.

Continue lutando, questionando, mesmo que você não consiga mudar alguma coisa, talvez esteja abrindo o caminho para mais pessoas poderem lutar.

Anônimo disse...

Sou professor da rede federal de educação tecnológica há 34 anos. Sou testemunha (e muita gente, mesmo sem a minha vivência sabe disso) de que o ensino público no Brasil é o que há de melhor!!!!
Pirei? Não, estou falando do ensino público FEDERAL!
Estou falando desde os Colégios de Aplicação das Universidades, passando pelos CEFETs, Escolas Técnicas, Agrotécnicas, Pedro II e Universidades Federais.
A prova do que estou afirmando é que qualquer pai ou mãe faz todo o possível para que seus filhos possam conquistar uma vaga em qualquer destas instituições.
Porque então o ensino público nos âmbitos estadual e municipal (com pouquíssimas e honrosas exceções) é o desastre que todos sabemos?
Lembram do meu comentário na parte I desta postagem? Eu falava no tamanho deste país e na CENTRALIZAÇÃO das decisões. O MEC não é competente para prover um ensino de qualidade nas instituições sob sua gestão direta? É!
Esta competência se verifica nas instituições sob responsabilidade de estados e municípios? Não!
Olha o problema aí.
A Cristiane falou sobre os "vários MECs" dos estados americanos. Pois é.
Aqui precisamos de algo parecido. Claro que não é a ÚNICA coisa que está errada no nosso sistema, e não temos aqui espaço para aprofundar mais o assunto, mas eu insisto: Enquanto tivermos a centralização administrativa excessiva que temos (não somente na educação, mas em todas as áreas), estaremos LONGE das soluções de que nosso país tanto precisa.

Anônimo disse...

Realmente, não se pode negar que o ensino federal é superior. Pena que existam pouquíssimas escolas de ensino fundamental que sejam federais.
As que existem, são para poucos pois precisam estar muito preparados para passarem na seleção.

Anônimo disse...

Aí é que está o "xis" da questão, Alvaro. Nós não precisamis de mais escolas federais, precisamos é que os estados e municípios cheguem ao mesmo PADRÃO de ensino ministrado pela União.
Isso só será conseguido com descentralização administrativa e maiores investimentos locais. Os estados e municípios não podem desenvolver seus projetos educacionais "amarrados" a repasses federais de verbas, as quais, ainda por cima, se escafedem pelo caminho, irrigando bolsos de políticos, administradores e empresários safados.
É como disse a Cristiane: Um MEC em cada Estado!

Cristiane A. Fetter disse...

Este recado é para Sonhos de Crochet.
Estava assistindo ao RJTV (ele passa pela globo internacional) e eles estão fazendo uma série de entrevistas sobre as condições de ensino e das escolas no Rio de janeiro e deixaram um telefone para quem quiser fazer uma reclamaçao junto ao telejornal, aí vai: (21) 2461-2030. Espero que ajude em alguma coisa. Abraços