segunda-feira, 4 de junho de 2007

Queima de Lixo


No meu texto "Cortina de Fumaça" eu relato uma situação em que um fiscal da prefeitura admoesta um caseiro que queimava um monturo de folhas secas provenientes da varredura do seu quintal. Imbuído da "autoridade" inerente à sua função o fiscal ameaça autuar o serviçal com base na legislação relativa a "queimadas". Na ocasião fiz ver ao fiscal que sua vinda ao local, de carro, havia "custado", em emissão de GÁS CARBÔNICO, centenas de vezes mais do que a emissão causada pelo ato doméstico do caseiro. Além do que a legislação alegada não se aplicava, uma vez que não se tratava de "supressão" de vegetação.

Será que o "erro" do fiscal não justificava o "erro" do caseiro?

No bairro onde moro todas as residências são casas com quintais (enormes), densamente arborizados. A "geração" de lixo (folhas secas) é intensa e diuturna e o poder público (prefeitura) não disponibiliza serviço de retirada deste tipo de lixo.

Concordo plenamente que a fumaça gerada pela queima é nociva, incomoda e faz mal a quem a respira, mas, não posso considerar e concordar que este tipo de "geração" de gás carbônico como sendo relevante para elevar o teor deste gás na atmosfera! É o mesmo que dizer que o marujo que faz xixi na amurada do navio está contribuindo para poluir o oceano!Além disso, é preciso avaliar outros aspectos.

Deixar o lixo onde está para que se decomponha naturalmente é o tipo de "solução" que quem mora numa casa sabe o transtorno que causa e a inviabilidade desta conduta. Mesmo levando em consideração o direito à vida e, reconheço a importância destes seres nas cadeias naturais, isso é propiciar habitat favorável na porta de nossas casas para cobras corais e jararacuçus (ambas letais), os escorpiões, as formigas, as aranhas armadeiras e outros adoráveis "bichinhos".

Varrer mas não queimar e juntar em uma porção do terreno especialmente destinada para "compostagem". Proposta também inviável para quem conhece como se dá um processo de compostagem, quanto tempo demora, e, ainda, que a quantidade de lixo gerada é sempre muito maior do que a capacidade de realizar a compostagem. Além disso, há que se considerar que o "lixo" de espécies como eucaliptos e pinheiros são de decomposição lentíssima, uma vez que estas espécies possuem, na sua composição química, poderosos bactericidas, que inibem as bactérias da decomposição (tentem compostar a pinha da casuarina e depois me contem!).

Retirar (contratar caminhões) periodicamente este lixo. Dois problemas, um prosaico e outro ambiental.

O prosaico: Isso custa dinheiro! Quem ganha para pagar caminhões toda semana (a quantidade deste tipo de lixo gerada em uma semana enche um - ou mais – caminhão. O ambiental: Retirar (sistematicamente) este material do local onde foi gerado significa RETIRAR NUTRIENTES, empobrecendo o solo local.

E queimar não é a mesma coisa? Não.

Quando você queima está reduzindo (oxidando, para ser mais exato) o CARBONO das cadeias que formam o vegetal a Gás Carbônico, no entanto, os componentes MINERAIS permanecem na forma de ÓXIDOS, nas CINZAS, e retornam ao ciclo no próprio local. O Gás Carbônico vai voltar a ser convertido nas cadeias carbônicas, formando novos tecidos vegetais, através da FOTOSSÍNTESE.

Há ainda o fato de que os caminhões depositariam este lixo "concentrando-o" em algum local, com o risco muito grande de que alguém ateie fogo (e, não tenham dúvida, alguém ateará!) formando não uma fogueirinha, mas uma montanha de fogo!

Portanto o problema não é tão simples. E eu sou alguém que procura, no seu dia-a-dia, "agredir" o menos possível o meio ambiente.

Só não convivo com idiossincrasias, fundamentalismo, ou, pior ainda, hipocrisias, como por exemplo, de fiscais e autoridades que fecham os olhos (mas não a carteira e os bolsos) a crimes evidentes e VISÍVEIS, como desmatamentos criminosos para construções clandestinas, tanto num extremo (favelas) quanto no outro (condomínios de luxo), e vem fazer "palhaçada" com pessoas humildes e sem esclarecimento.

Queimar lixo está longe de ser um procedimento "saudável", que deva ser incentivado. Concordo.

Porém não é crime e seus efeitos nocivos podem ser extremamente atenuados com regulamentação (horários, condições topográficas, atmosféricas etc), educação e bom senso.

Ou então que se apresente alternativa mais viável. Vamos perguntar ao fiscal?




P.S: Aos leitores mais desavisados, estou falando de um bairro de casas e sítios, na zona rural de uma cidade de 150mil habitantes. Claro que em se tratando de metrópole, mesmo em casas com quintais, o papo é outro!


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Texto de Ivo Fontan

8 comentários:

Cristiane A. Fetter disse...

Oi Ivo, o assunto que voce abordou é uma realidade para mim que vivo aqui nos EUA. Como as estacoes sao bem difinidas com a chegada do outono TODAS as folhas caem no chao. Moro em uma area muito arborizada e gramada, aliás exigencia da lei estadual, ja que Nova Jersey e conhecida como o estado verde. Nao podemos queimar as benditas tendo em vista que poderiamos iniciar um incendio nas arvores que sao muito proximas das outras, entao o sistema publico de limpeza funciona da seguinte forma: quando nao estamos no periodo de outono o "lixeiro" passar uma vez por semana para recolher grama, folhas e galhos e no outono vem um equipe especial para recolher as folhas que cairam e que so temos o trabalho de reunilas na beira da rua. Um caminhao triturador (com um aspirador gigante) faz o trabalho dele e depois leva o resultado para um local especial onde as folhas serao preparadas para participar de uma mistura de adubo. Nao pagamos nada por isto. Gostaria muito que este tipo de visao existisse no Brasil, gostaria muito de ver meu pais mais adulto. Mas nao perco as esperancas nao. Nao sei se isto pode te ajudar, mas e sempre uma dica e as vezes surgem ideias de outras ideias. Um grande abraco.

Ana Cláudia disse...

É amigos,

Depois do que a Cris falou fica até difícil comentar alguma coisa porque eu não moro em casa mas já ouvi falar de alguns recolhimentos que a Comlurb faz gratuitamente. Não sei exatamente quais. Entulho, com certeza. Mas folhas e galhos, não sei.

O que o Ivo colocou faz muio sentido ainda mais quando vermos tanta corrupção, tantos desmandos partindo da iniciativa pública, do atendimento feito pelas empresas públicas.

Fora a questão intrínsica da poluição causada para "justificar" a penalização de outra poluição: muito menos poluente tanto no sentido prático como no ético.

Para o governo e para a maioria do funcionalismo público:
O povo, não é nata....

Anônimo disse...

Pois é, amigas, eu só escrevi este texto para mostrar que as coisas sempre tem dois (ou mais)lados. A realidade normalmente nos apresenta aspectos que, na maioria das vezes o "ideal", o "utópico", o "politicamente correto", não contemplam. Sobretudo quando o assunto é meio ambiente e "mais sobretudo ainda", quando a país em que se vive é o Brasil!
Aqui, infelizmente, os políticos, governantes e autoridades em geral, não estão nem aí para o que é CERTO. A eles interessa o que é CONVENIENTE.
E se o CONVENIENTE deles bate contra o meu CERTO, eu pulo, esperneio e berro mesmo!

Anônimo disse...

clap, clap, clap!

aplausos!

Cristiane A. Fetter disse...

Faço meus os claps do Álvaro. Alias o que o Ivo disse no comentário acontece mais do que deveria. Não devemos nos calar. Abraços

Ana Cláudia disse...

É uma pena que muitas pessoas que lêem essas informações não se manifestem nos comentários. Tenho certeza que muita gente poderia acrescentar.

Projeto Idéia Legal disse...

Oi Ivo, concordo com você quando diz da incoerência entre leis, práticas e ideologia. Estamos num país que por muito tempo foi explorado. As pessoas ainda carregam este fardo. Estamos perdidos no meio dessa selva, nessa terra de ninguém, em que o exemplo não vem de cima. O exemplo vem de cada um de nós cidadãos. Moro numa chácara e sei bem o que é isso. Há um tempo atrás, por incrível que pareça, não tínhamos conhecimento da poluição que é provocada pelas pequeninas queimadas do nosso quintal. Apesar de sabermos sobre os malefícios desta prática, fica difícil nos livrar de tanta folha e galho, não é? Quando podamos a grama, deixamos secar o que foi cortado e depois colocamos nos pés das outras árvores. Esta foi uma dica do jardineiro que diz servir como adubo para a planta, além de reter a umidade próximo as raízes.
Fica mais uma dica! Um abraço, Renata (sempre terei que assinar, pois o meu nome, aí em cima, aparece como idéia legal, nome do projeto que idealizo).

Anônimo disse...

Oi Renata
Essa dica da grama eu também aprendi com um jardineiro há anos e pratico, assim como também com pequenas podas, como heras e até mesmo flores de buganvílea. O problema é que em lugares com uma geração de lixo vegetal tão grande como é o caso de meu bairro, por mais que você queira fazer aproveitamento, é MUITO MAIS do que você consegue reciclar. O processo de compostagem é longo e não dá vazão à quantidade de lixo gerado. Aí acontece uma coisa terrível, da qual eu tenho experiência: Se você tentar "acumular" simplesmente o lixo, esperando a decomposição natural, você forma um verdadeiro criadouro de todos aqueles animais de que falei no texto. Isso é MUITO SÉRIO, EU JÁ encontrei em montes deste tipo de lixo vários animais peçonhentos com potencial para matar uma criança!