segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Revolta, revolta, revolta!

Dia 18 de julho passado a aldeia indígena que ocupava uma área PRIVILEGIADA à beira-mar na região oceânica de Niterói pegou fogo. Está aí a foto. O incêndio, claro, deve ter sido criminoso. Os índios que ocuparam a área que faz parte da reserva ambiental da serra da Tiririca viviam sob constantes ameaças e uma luta judicial era travada para a retirada dos índios daquela área.

Eu estive na aldeia com minha família no dia do índio e fiquei admirada em encontrar uma aldeia genuinamente indígena no meio da cidade. E meu espanto não era em vão: pleno século 21 e uma aldeia de índios vivendo entre o mar e a lagoa num dos bairros mais valorizados de Niterói, onde a especulação imobiliária reina, não podia ser uma coisa naturalmente pacífica. O que não interessava aos especuladores e interessados na valorização imobiliária da região considerar era que área foi reintegrada ao Parque da Serra da Tiririca depois de ter sido misteriosamente subtraída anos atrás da área de preservação do mesmo.

Os moradores do bairro, com medo de que a comunidade crescesse, viam seu rico patrimônio ameaçado. Não que eu ache errado eles terem essa preocupação, não acho. Se você, que luta, compra sua casa num local valorizado, vendido com determinadas características de segurança e etc...não pode querer que qualquer pessoa tome conta de um terreno e faça crescer uma comunidade sem nenhum controle. Não podemos ser hipócritas: os índios viviam em condições precárias de saúde, higiene, totalmente fora dos padrões de nossa época. Viviam de fato, como índios. E estamos no Brasil, onde dificilmente as coisas são controladas. Portanto, eles estavam ali, todos, índios e moradores, á própria sorte do que viesse a acontecer. Mas isso não justifica ir lá e mandar tacar fogo em tudo com quem estiver dentro!

Não sei se foi criminoso ou não.E não me interessa se feria os interesses econômicos de quem quer que seja. O fato é que a aldeia era indesejada e, de repente, depois de inúmeras tentativas legais de retirada serem frustradas, a aldeia pega fogo.
E para meu DESespanto, uma moradora, conversando comigo no parquinho do bairro falou com a maior naturalidade: “fazer o quê, né?”

Quer dizer que se as coisas não são como queremos, vamos lá e passamos fogo. Vejam bem, amigos: não estamos no Acre, na selva amazônica, nem no interior . Estamos no meio de uma região metropolitana e as coisas acontecem da mesma forma: os CORONÉIS ou os ricos decidem exterminar as pedras do caminho de seus interesses. Pelo menos é o que parece. Não é o local que faz diferença: são os seres desumanos que nele habitam.

Agora, se a lei no Brasil e a Justiça , só é para os ricos, porque eles não usam a lei a seu favor?
Porque ainda temos que ver gente se comportando como bárbaros?
Mandar tacar fogo em tudo o que uma pessoa possui ainda com ela e sua família dentro de suas casas? Estou revoltada!

Fotos de nossas visitas a aldeia (eu estou de mochila, de costas):






Leia +:


Conhecer para respeitar !


http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/07/424928.shtml


Fotos do que restou da aldeia Fotos da construção da escola indígena e da casa de reza O que precisamos entender sobre o caso da Aldeia de Camboinhas Em favor dos Guarani de Camboinhas Incendio Criminoso destroi ocas em Camboinhas



Folha Online - Cotidiano - MPF pede inquérito para apurar se ...

_____________________________________________________________________________ Ana Cláudia Bessa

6 comentários:

Anônimo disse...

Não tenho nem o que comentar: tristeza. Se houvesse um mínimo de controle do poder público, dando saneamento básico e fazendo uma demarcação séria, com fiscalização constante, uma convivência pacífica seria possível. Já pensou estimular essa população indígena a plantar orgânicos para vender às comunidades vizinhas? Estimular cooperativas de artesanato? Por que as pessoas não pensam nisso?

Houve uma época em que eu brigava para que a favela perto da nossa casa não crescesse. Minha proposta não era tirar ninguém de lá, apenas evitar que invadissem a área de reserva florestal. Até consegui apoio político por um tempo, mas só por um tempo. Hoje a favela vai avançando, sei lá onde chega. :-(

Cristiane A. Fetter disse...

REalmente, olhando as fotos a sensação que tenho é que foi algo direcionado.
Só lamento.
Quem sabe um grupo alemão não queira ajudar estes índios, sim porque os estrangeiros é que se preocupam com os nossos habitantes primeiros e não nós seus descendentes e por direito seus protetores.
Triste.

Cristiane A. Fetter disse...

O engraçado é que você me falou tanto deles, todas as vezes que fui aí.
Me disse: visite-os é muito interessante, meus meninos adoraram.
Perdi.

Unknown disse...

Lamentável...

Mas seria uma boa idéia a comunidade local fazer um mutirão... seria um belo tapa de luva de pelica...

Geovana disse...

Ana, sempre acho que só nos indignamos o suficiente quando algo nos toca profundamente. No geral é comentar o assunto durante uma semana, dizer que sente muito e pronto, parece que tudo de resolve. Essa natureza brasileira incomoda e eu sei que também sou assim. Vejo seu relato, fico chateada, triste e indignada, mas no fundo, lá no fundo, muito de nós pensamos: fazer o quê, né? Lamentável...

Geovana disse...

Aliás, o que me faz voltar no seu blog é ver que você, de alguma forma, age pra tornar o lugar onde vive melhor. Vcs reclicam, dão soluções, incentivam boas ações. Volto aqui e voltarei sempre pra aprender por osmose a agir de forma melhor.