Estava pesquisando na Internet sobre contos infantis, já que aproximava um dia de contação de histórias nas oficinas que ofereço em meu projeto.
Uma das histórias me chamou a atenção, que tinha como título “O menino que quase virou cachorro”, escrita por uma excelente profissional da literatura infantil, Ruth Rocha.
Esta história ultrapassa o conto e aborda aspectos da relação entre pais e filhos. Retrata o sentimento que muitas crianças sentem diante da indiferença dos pais. Ela começa falando sobre o protagonista da história chamado Miguel. Um menino como a maioria das crianças: brincalhão, inteligente, fiel aos amigos...
Nas conversas com seu amigo Tanaka, Miguel fez um desabafo dizendo que era invisível. Mas Tanaka achou aquilo engraçado, pois enxergava muito bem o amigo. Foi aí que veio a explicação: “sou invisível só para os meus pais, eles olham para mim, mas acho que eles não me enxergam”.
O grande amigo Tanaka não acreditou no que ouviu e quis conferir de perto. Então os amigos marcaram um almoço na casa de Miguel.
Chegou o dia do almoço. Eles se sentaram à mesa e avisaram que já estavam prontos para almoçar. A mãe de Miguel cumprimentou Tanaka, perguntou pela mãe dele e fez mil elogios à sua irmã, sem se quer notar a presença do próprio filho à mesa.
Sem a atenção da mãe, Miguel foi fazer uma pergunta para o pai que estava assistindo televisão. Miguel recebeu como resposta um Shhhhh!!!!! do pai, pedindo para fazer silêncio, para não atrapalhar a televisão falar, quer dizer, para não atrapalhá-lo de ver televisão.
O amigo Tanaka, espantado com a situação, confirmava a suspeita de Miguel: ele era realmente invisível para os pais. Miguel ainda completou que seu pai era pior quando passeavam na rua, que ele o puxava pelo braço e falava como se estivesse falando com um cachorro: “anda logo!”, “espera!”, “anda”. Isso também se repetia quando ia vestir roupas, além de seu pai escolher as peças sem consultá-lo.
Até que um dia o pai de Miguel o obrigou a colocar uma coleira em formato de gravata para ir a um casamento. O Miguel, se sentindo realmente um cachorro, com aquele nó apertado no pescoço, lascou uma baita de uma mordida na mão de seu pai, que ficou furioso.
Então, nesse momento, Miguel disse aos seus pais que se não queriam que ele comportasse como um cachorro, era só não tratá-lo como tal. Os pais ficaram olhando um para o outro.
Miguel completou:
_ Não me ponham coleira! Não me chamem “Vem”. Eu tenho nome.
No mesmo dia, os pais de Miguel já mudaram as suas atitudes. Tiraram a gravata do filho e a partir desse momento foram mais atenciosos.
Você vai precisar levar uma mordida para dar mais atenção ao seu filho?
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Renata Gonçalves
3 comentários:
Renata,
seu post é muito interessante porque acredito que todos nós sejamos um pouco displicentes na atenção que poderíamos dar a nossos filhos. A gente tenta dar o máximo e quando vê, ou pensa, nunca foi suficiente.
Tem horas que precisamos de um tempo para nós mesmos, tem horas que precisamos cumprir prazos, entregar trabalhos, cumprir responsabilidades. O limiar entre a desatenção e nosso próprio espaço é uma linha tênue difícil de definir.
Mas acredito que uma coisa importante é deixar a criança dentro de nós aflorar junto aos nossos filhos. Brincar um pouco, negligenciar as tarefas adultas, entegrar-se àquele momento único que nunca volta.
Nem sempre é possível, mas acho que vale à pena tentar!
Não só eles vão nos agradecer, mas nós é que vamos agradecer à eles.
Bjs!
Ana,
Com certeza não se pode dedicar tempo integral aos filhos, ainda mais nos dias de hoje em que geralmente o pai e mãe trabalham fora de casa.
Presenciei uma cena que retrata bem a relação, digamos moderna, entre pais e filhos.
Fizemos uma parada, voltando de Juiz de Fora, numa lanchonete bem próxima já da minha cidade. Fui levar o Victor para brincar no parquinho dessa lanchonete e ao lado dele tinha uma moça de branco brincando com um menininho de mais ou menos três anos de idade. O que me deixou com a "pulga atrás da orelha" foi ver que logo ao lado estavam sentados o pai e a mãe do menino, só observando como a babá brincava com o menino. Olha, fiquei ali por uns 30 minutos e durante esse tempo os pais da criança nem levantaram da cadeira.
Olha que situação...
Quero chamar a atenção dos pais que passarem por aqui para a QUALIDADE da comunicação com seus filhos. Não falo só do fato de brincar, mas do tocar, do olhar, do sorrir...
Abraços, Renata
Éh,
Todos nós vestimos um pouco dessa "carapuça"...
Vivi isso diversas vezes.
Parabéns pela abordagem desse tema.
Acredito que o assunto faz parte do dia-a-dia das pessoas que se dizem mais atarefadas...
Se isso é verdade, vou passar a colocar essa "tarefa" (atenção aos pequeninos) em destaque na minha vida. Né mãe ?
Parabéns !
Fabio Tôrres
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