segunda-feira, 27 de agosto de 2007

PRODUTOS ORGÂNICOS X MERCADO

Porque os produtos considerados orgânicos (em especial os hortifrutigranjeiros) são tão pouco difundidos, caros e, até mesmo, rejeitados por uma grande parcela da população?

Bem, o fato de serem caros já traz uma parte da explicação. Mas por que são caros? Ah, por uma questão de “escala”, diremos. Sim, é verdade. Mas porque então não são produzidos em maior escala para permitir a redução de preços?

Complicado, né? Parece aquela história do “ovo e da galinha”: Quem nasceu primeiro?

Bem, o tema é complexo e a explicação também, mas, certamente, a explicação passa pelo “aspecto” dos produtos orgânicos.

A ciência agropecuária tradicional vem, ao longo do tempo, desenvolvendo tecnologias visando a “melhoria” de processos de produção. Isso implica em maior produtividade por área de cultivo; resistência a pragas; resistência a transporte; aspecto etc.

Bem, aí está um fator-chave: aspecto.

Ninguém ignora (e ninguém está livre disso) que o aspecto de um produto (no caso dos bens de consumo nós usamos uma palavrinha besta: design) é um dos principais argumentos de venda. Qualquer um de nós, no mercado, “escolhe” os legumes, verduras e frutas pelo aspecto. E não descartamos simplesmente os “podres” ou “danificados”. Nós escolhemos os mais “bonitos”. E o que é “bonito”, no caso de um produto agrícola?

Aí é que está. A INDÚSTRIA agropecuária, ao longo do tempo, foi estabelecendo um PADRÃO. Cor, brilho, tamanho, formas perfeitas...

Considerando que as populações urbanas há muito superaram as rurais em número, é compreensível que hoje a grande maioria das pessoas não tenha nenhuma “intimidade” com a agricultura, o que facilita enormemente a assimilação destes padrões.

Acontece que para obter produtos dentro desses tais padrões é necessária muita “tecnologia”, e isto inclui defensivos, fertilizantes químicos, hormônios, para não falarmos em transgenia e outras técnicas mais recentes.

Os produtos cultivados sem a utilização destes “melhoradores” tendem a ser menos “atrativos” visualmente: folhas, tubérculos, frutos, em geral menores, com mais “defeitos” etc.

Aí fica muito difícil convencer um “ser urbano” de que a quela alface “mirradinha”, com pouco brilho, é mais saudável do que aquela outra enorme, brilhosa e verdinha!

Na minha opinião este discernimento, em larga escala, jamais será alcançado. Não no tipo de sociedade hoje vigente!

Ah, e antes que eu me esqueça: Orgânicos e Hidropônicos não são a mesma coisa!

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Texto de Ivo Fontan

4 comentários:

Anônimo disse...

Há muito dou preferência a produtos orgânicos, sempre que possível. Economizo em outras áreas do supermercado e do shopping... nunca em comida. Quero o melhor sempre :)

Flavia

Anônimo disse...

Ivo,

concordo em parte com você sobre o aspecto dos orgânicos, mas isso tem mais a ver com quem produz ainda um pouco amadoristicamente. Hoje em dia as técnicas bioagrícolas têm permitido produtos orgânicos com um aspecto ótimo e competitivo. Os preços ainda podem baixar, é verdade.
Quanto à produtividade, já foram feitas pelo menos duas pesquisas sérias apontando que a produtividade é maior nas culturas orgânicas que nas convencionais, tanto a curto quanto a longo prazo (por causa da conservação do solo).
Abração.

Ana Cláudia disse...

Eu confesso que ando muito descrente do ser humano. Tudo gira em torno de uma coisa: dinheiro.
Não posso deixar de pensar que os produtos orgânicos são caros por um motivo simples: especulação, oferta/procura, valor agregado... etc...
Não lembro onde li que os produtos orgânicos são mais caros porque sua produção demanda maiores cuidados e respeita o ritmo natural, o que significaria uma produção mais demorada.
Isso explica em parte.
Contudo, pelas experi~encias que venho vivendo, discordo um pouco da Flávia porque já aprendi na prática que ser caro não significa, necessáriamente, ser de qualidade.

A gente vê empresas colocando descrições de ingredientes no rótulo que não são verdadeiras, empresas que vendem ovos com ômega 3 que não tem nada de diferente de um ovo normal...
e não duvido que tenha produto sendo vendido como orgânico sem ser.
Culpa de novo do governo que não cumpre seu papel regulador e fiscalizador.
E muitas vezes, quando cumpre, o fiscal é corrupto.
Desculpem, estou meio revoltada hoje.

Anônimo disse...

Mercedes
É verdade que há avanços importantes nesta questão do aspecto (comercial) dos orgânicos, mas ainda assim estamos longe de atingir o mesmo "padrão" da agricultura convencional. De fato, a maioria dos orgânicos encontrados no mercado ainda "perdem" no quesito "aparência" para os convencionais.
Em relação à produtividade, também tenho conhecimento de resultados que apontam para altos níveis, mas isso não resolve o problema da "velocidade" da produção.
Produzir mais por área plantada ou durante mais tempo é diferente de produzir MUITO.
Mas o importante é que estamos avançando. A equação é grande e complexa: aumento crescente de bocas para alimentar x qualidade e sustentabilidade!
P.S. A Ana Cláudia deve ter tomado uma multa de trânsito (injusta) hoje!