sexta-feira, 2 de maio de 2008

Medo da Dor

Eu tive minha primeira filha aos 17 anos.
Imaginem: nordestina, recém-chegada no Rio de Janeiro, morando num bairro pobre e com "um filho no bucho".

Confesso: morria de medo do que o futuro me reservava.

No dia em que as dores do trabalho de parto começaram, eu estava sozinha em casa, angustiada sem nenhuma razão aparente. Meio aflita.
Consegui dormir um pouco e dei uma boa descansada.
Quando acordei lá pelas 3 da manhã, senti umas dores mais fortes, como uma cólica e tentei procurar ajuda na casa da sogra da minha irmã (todos haviam saído) que fica 3 andares de escadaria abaixo de onde eu estava.

Lá fui eu, descer 3 andares com dores (leves).
Conversei com ela e decidimos ir para o hospital. Lá vou eu subir os 3 andares de novo para pegar minhas coisas que já estavam prontas e separadas.

Desci os 3 andares...risos.... e fomos Á PÉ para o hospital mais próximo já que neste horário, em bairro pobre, é impossível se conseguir um táxi.

Chegando no hospital, o atendimento era feito no terceiro andar, sem elevador.
Fui eu, escada acima.
Minha pouca dilatação informava que ainda ia levar um tempo para nascer e me encaminharam para outro hospital. Fui eu, escada abaixo.
O outro hospital era longe, muito longe. Fui de ambulância tendo que ouvir o enfermeiro que me acompanhava falando o tempo todo para eu respirar enquanto eu falava em silêncio para ele CALAR A BOCA...risos

Chegando lá, eu já estava com minha dilatação bem avançada e fui encaminhada para ser preparada para o parto, no quinto andar.
Adivinhem???? Elevador quebrado!
Lá fui eu, escada acima, de novo! Risos

Eu tinha medo da dor, mas ela sempre se manteve fraquinha e suportável até aquele momento. Era uma dor mais incômoda, fininha, do que forte, propriamente dita.

Fui atendida por um médico muito atencioso que somente me orientou a fazer força quando ele falasse. E assim fiz, na segunda força, minha filha saiu, sem nenhuma dor tão alucinante, sem gritos, sem desespero.

Outros partos estavam acontecendo e ouvi muitos gritos, mas eu não senti , em nenhum momento, vontade ou necessidade de gritar. E a dor existiu, mas foi uma dor que em nada lembrava a dor que eu imaginava que eu iria sentir. Só me senti incomodada pelo corte que fizeram na minha vagina e estes pontos , sim, doem na hora que é feito e depois, na recuperação. Mas nada também que tenha sido horroroso e nada que depois da recuperação tenha incomodado.

Meu medo da dor, foi maior do que ela.
E só pude pensar que queria ter todos os meus filhos nascendo assim.
Só pedi que tivesse menos escadas!

__________________________________________________________________________________ Texto enviado por Mafalda Tibiriçá

2 comentários:

Ana Cláudia disse...

Matilda, obrigada pelo seu texto. Adorei. Precisamos acabar com esse mito da dor do parto. Cada mulher é diferente, cada parto é diferente e cada dor é diferente.

Obrigada.

Beijos.

Carla Beatriz disse...

Matilda,

Que belo relato de parto! Eu também sentir dor em meus partos, mas nada que fosse insuportável, apesar de eu ter gritado bastante. ;-)
Eu também tive medo, mas não da dor e sim das hemorróidas ... Elas me incomodaram um bocado antes, durante e depois do parto.
Como foram os partos de teus outro(s) filhos(s)?

Beijos