Aproveitando o texto Medo da Dor, publicado sexta passada , vamos relembrar um texto publicado aqui em 20 de Março de 2007.
Parir no Brasil, é um parto. De preferência: cesareana.
Dos meus dois filhos, os dois foram de cesareanas. A primeira, desnecessária.
A segunda, embora necessária, nunca saberemos se foi a primeira que contribuiu para que o segundo não fosse normal. Já que meu colo do útero não foi “trabalhado” no primeiro parto. O filho era o segundo, mas para o colo do útero era o primeiro, ajudando, com outros fatores a impedir a evolução do trabalho de parto.
Nas duas oportunidades, eu busquei o parto normal.
Participei de grupos na internet e até paguei médico fora do plano de saúde.
É um horror saber que a OMS recomenda que , no máximo, 15% dos partos sejam cesareanas e vemos isso acontecendo em 80% dos casos. Causando prejuízos para a mãe e para o bebê.
Muitas vezes porque os médicos induzem as mulheres a escolher este parto, ou mesmo as enganam, falando, por exemplo, que cordão enrolado é indicação de cesárea. Dizem que parto normal depois de cesárea, não pode (minha sogra teve dois partos normais depois da primeira cesárea).
Vemos mulheres instruídas, inteligentes, escolhendo uma intervenção cirúrgica desnecessária apenas para escolher a data do “nascimento”, ou para não ter que ficar esperando que a natureza e principalmente a criança dê o sinal de que é chegada hora do nascimento.
Vemos crianças encaminhadas à UTI porque foram retiradas prematuramente e os médicos contam uma lorota salvadora que os pais do recém-nascido acreditam sem questionar. No fim, um “erro médico” vira uma cirurgia salvadora.
Eu queria parir é em casa, na minha cama, junto com meu marido e meus filhos. Ai, que sonho! Mas tem gente que acha parto domiciliar, coisa de macaca como se fosse parir ma selva. E o pior é que tem médico que diz que parto fora do hospital é retrocesso. Vejam o belíssimo trabalho da Casa de Parto de Realengo no Rio de Janeiro. Este mesmo trabalho existe em outras cidades como São Paulo. É público, é de graça, é sem médico.
Para ser mais sensacional, só sendo em casa. E não é difícil achar médico que acompanhe parto domiciliar. Basta buscar. Isso não garante o parto normal mas ajuda mais do que acreditar que o médico do plano vai fazer um parto normal com a mesma naturalidade com que ele faz uma cesareana. Pura ilusão na maioria esmagadora dos casos.
A mulher é plenamente capaz, embora queiram cada dia mais medicalizar o nascimento.
Tem tanta coisa que poderíamos dizer em prol do nascimento vaginal mas o principal e pedir ás mulheres que acreditem mais em si do que nos médicos, que questionem.
E para quem não acredita em parteira, que parto precisa de medicalização, vejam esta matéria do Caldeirão do Huck que nossa amiga Silvia Schiros nos mandou. A Dona Edite, linda, ajuda milhares de crianças a nascer respeitando o corpo da mulher e o bebê. Sem cortes vaginais (episiotomia), sem lavagem intestinal, do jeito que a mulher quiser (em pé, sentada, deitada...). Cheia de sabedoria, conhecimento, prática e experiência. Vale a pena assistir e se emocionar.
Nesta vida, não pretendo ter mais filhos, mas se a vida nos pregar alguma surpresa, acho que vou pra Pernambuco!
Não tenho filhas mas noras terão meu apoio para lutar pelo direito da mulher de parir como ela preferir, não como o médico quiser.
Em benefício de sua saúde e da saúde das crianças.
“Que coisa linda é um parto!” – D. Edite, parteira em Pernambuco.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Parir é um Parto!
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9 comentários:
Eu passei por algo parecido com o que você relatou. Procurei médico "humanizado", indicado em lista de discussão. Te conheço de lá, por isso vim ler sua mensagem sobre partos. E, acredite, ele só falou em cesareana. Só tive meu parto normal porque foi "redondinho". Senão...
Olá!
Não é fácil, né?
Mas eu acredito que se vc tem essa experiência para contar, vc não deve se calar porque, uma pessoa que vc ajudar com sua experiência, já vale á pena.
Não se esconda. É no anonimato das pacientes que esses médicos se beneficiam.
Bjos.
Olá,
Não tenho filhos ainda, mas pretendo tê-los. Quero ter parto normal e farei tudo para que isso aconteça.
Parabéns pelo blog, esta maravilhoso!
Muito obrigada. Nós agradecemos de coração sua visita e seu comentário. Boa sorte quando for ter seu filhos e não deixe de se informar bastante desde agora. Cuidado com os falsos humanizados e com pessoas que estão a fim de se auto-promover às custas da Humanização do Parto. Busque muita informação e se puder, faça uma poupança para não ficar nas mãos dos médicos de plano de saúde.
Bjos!
Eu queria muito ter uma parto normal mas cai no conto do cordão enrolado. Quem sabe no próximo? Fiquei feliz de ver que é possível. Sua sogra teve parto normal depois de cesárea. Nada melhor que um exemplo prático para encorajar a gente a tentar.
Escrevi uma história muito legal lá no blog sobre este assunto. É a história da leitora Carla que fez o parto natural, em casa, com ajuda profissional. Veja lá http://www.meninorude.blogspot.com
Acho ótimo essa preocupação do blog com a questão da cesariana. No Brasil cirurgia (em geral) banalizou demais, virou forma de ganhar dinheiro. Precisam ensinar medicina de verdade nas faculdades.
Oi Ana,
Eu ADORO falar sobre parto, mesmo que eu não queira mais ter filhos. Meus dois filhos já estão de bom tamanho e os partos deles foram extremamente satisfatórios para mim.
Olha só a coincidência da Geo publicar ontem um post sobre a experiência de meu parto domiciliar no blog dela e você postar sobre o assunto aqui hoje.
Eu lembro muito bem de sua primeira cesárea e também do quanto vc sofreu pela decisão arbitrária do médico de fazer a cesárea - e com anestesia geral! Mas vc mesma disse, vc terá noras e tenho certeza que será uma sogra que vai dar o maior incentivo às moças para terem parto normal. Tomara que elas ouçam seus conselhos!
Geo,
A Ana Cláudia conhece minha história, nós nos conhecemos em 2004 através da lista Parto Nosso (ex-Amigas do Parto) e somos amigas virtuais desde então. ;-)
Beijos mil
Vejam, amigas...quanta energia mesma na sintonia! Pena que somos tão poucas vozes!
Ana, sou médica e minha filha nasceu na Europa. Curiosamente fui perfeitamente preparada para o parto vaginal apesar da gestação de risco (40 anos). No sétimo mês entrei em pré-eclâmpsia, no oitavo por oligohidramnios foi feita uma cesárea. Bem indicada, havia risco de vida para nós duas, eu e minha filhinha. O problema não é a cesárea em si, é a indicação, coisa que não é respeitada por aqui. Se obedece mais as "vontades" (do doutor e do paciente também, muitas vezes) do que o real motivo para se submeter a um procedimento cirúrgico. Mas num país onde lipoaspiração é como ir à feira... Força meninas, é importante ter consciência do que é útil e do que é fútil. Quem sabe se as pessoas falassem mais sobre isto esta noção de que cesárea é uma maravilha seria mudada. Cesárea é e deveria ser vista como um procedimento emergencial, não como uma rotina.
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