segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

INVENTARAM O RACISMO NO BRASIL

Era uma vez um país com um longo e tenebroso passado escravocrata. Depois de mais de dois séculos "importando" cativos negros do continente africano e transformando os mesmos em "coisas"; "mercadorias"; "motores" etc, esse país finalmente (depois de todos os outros) abole essa prática abominável.

O faz porém de forma temerária e movido por inúmeros interesses, dos quais, nem todos lá muito... confessáveis, digamos assim. Desse açodamento resulta uma verdadeira massa humana praticamente sem condições de sobrevivência digna (não por culpa deles, óbvio) em uma sociedade que se adequava, na marra, a um modelo econômico diferente do que a havia construído (a escravocracia).

Esta massa, como não poderia deixar de ser, passa a constituir os estamentos mais baixos e desestruturados desta mesma sociedade. Como também não poderia ser diferente, deste estamento surgem os guetos, a marginália, o lumpesinato. Chagas vivas e corrosivas com as quais essa sociedade teria que conviver para lhe lembrar, por muito tempo, a monstruosidade que cometeu, também por muito tempo. Ocorre que esse país, diferentemente de outros também ex-escravocratas, iniciou de pronto um processo de miscigenação que viria, mais cedo ou mais tarde, cicatrizar, em definitivo as chagas, através da emergência de uma nova e sui-generis sociedade mestiça que tinha tudo para ser exemplo para o resto do mundo.

Cento e tantos anos depois esse país encontrava-se num estágio já bastante avançado desse processo. A miscigenação avançava em todos os setores da sociedade. A cor da pele deixava de ser estigma. Os preconceitos (e não racismo!) caminhavam para se auto-extinguirem de forma natural. As lembranças do horror dissipavam-se lentamente nas brumas do tempo. Enfim, a própria sociedade encontrara seu caminho e o trilhava de forma segura e inexorável, até que...Entram em ação os políticos.

Corruptos, incompetentes, mal intencionados, incapazes de prover as demandas da sociedade como, por exemplo, educação e empregos para todos, eles sacam de seus arsenais inesgotáveis de canalhices, a "culpa" (que já não pertence às almas viventes hoje) pela escravidão e inventam as incabíveis e RACISTAS (estas sim!) COTAS.

Manipulando maquiavelicamente os sentimentos (ainda não totalmente extintos) de mágoa existentes, sobretudo entre os mais pobres e/ou de cor de pele mais escura, eles apresentam a "solução das cotas" travestida de redenção e com isso jogam para a sociedade o problema que "eles" criaram. Com o agravante de que agregado a isso vem o vírus do RACISMO, que antes jamais havia conseguido grassar entre nós, apesar de tudo.

Parabéns, senhores políticos. Vocês conseguiram!

__________________________________________________________________________________ Ivo Fontan

9 comentários:

Rita de Cassia disse...

Tu sabia que já estava começando a sentir um certo desconforto em dar minha opinião a respeito destas Cotas? Já me perguntaram se sou racista, quando comentei que isso sim seria separar brancos e negros. Não somos iguais? Deveríamos ter oportunidades iguais e não oportunidades definidas pela cor da pele.

Rosinha Lima disse...

Isso é uma questão complexa. Apesar de concordar com o seu ponto de vista, e achar que essa é uma medida ainda mais racista por segregar as pessoas pela sua cor, os argumentos de quem defende as cotas são plausíveis. Eles dizem e mostram dados estatísticos de como o negro, embora sendo em grande número no país, exista em tão pouca escala nos bancos das universidades públicas e privadas. Aí entra a questão da educação, que não é de qualidade, que não prepara bem os alunos, etc. Acredito que se for para existir cotas, que as mesmas sejam para pessoas comprovadamente carentes, que não tiveram chances de pagar uma boa escola, independemente de serem brancas, pretas, amarelas ou vermelhas.

Geovana disse...

Quando o governo Lula criou a cota para negros não concordei. Após ouvir o argumento do próprio presidente, entendi. Sempre acreditei que devesse ser como Rosinha citou acima, mas tem um probleminha: Num país onde não se sabe quanto cada um ganha, o assalariado parecia mais rico que o comerciante sonegador ou o estelionatário. É difícil governar nesse país, por isso eu prefiro acreditar em Lula e aceitar que a cota para negros foi a maneira menos errada que ele encontrou de favorecê-los imediatamente. O prouni é uma revolução, muitos estão podendo entrar numa universade, estão se sentindo importantes. Eu vejo um Brasil melhor hoje, por isso confio no programa das cotas e no governo Lula.

Ana Cláudia disse...

Ivo, outro dia mesmo estava lendo um texto sobre a Princesa Isabel e vou falar dele num texto que ando querendo escrever para o dia em que comemoramos a abolição da escravatura, 13 de maio, né? Infelizmente, o Brasil começou errado e a abolição foi feita deixando negros libertos sem a menor condição de subexistência. E daí a coisa foi só se agravando até chegarmos aos dias de hoje. Eu entendo os argumentos da Lei de Cotas, mas que isso é um remendo, um engodo, é!
De que adianta um negro ou branco despreparado entrar para uma universidade, só entrar já o qualifica? Já dá oportunidades?
Resolve?
fora a diferenciação impossível a meu ver: definição de negro no Brasil.
Porque eu sou morena, que tem na família louro de olho azul e negro. Eu sou o quê, branca ou negra?

Anônimo disse...

Essa é uma boa pergunta. Quem é negro?

Anônimo disse...

Caro GEO, confesso que não entendi muito bem a sua argumentação, mas mesmo assim respeito sua opinião e agradeço por expressá-la neste espaço.
Quanto à minha opinião é, rigorosamente, a que está expressa no texto.
Chamo atenção para o fato de que não estou questionando o PROUNI (isso é outra coisa, contra a qual tenho também restrições porém apoio mais do que restrinjo). Também não questiono o governo Lula (embora também tenha restrições), mas sim os POLÍTICOS, independentemente da "sigla" a que estejam circunstancialmente ligados, pois minha restrição a eles é ampla, geral e irrestrita!

Geovana disse...

Desculpe, só vi sua resposta hoje. Eu defendo as cotas porque acredito que, mesmo havendo algumas avaliações indevidas entre quem é negro ou branco, a maioria negra será beneficiada. Se esperarmos os negros ganharem uma educação de base para entrar com igualdade em uma universidade, eles jamais alcançarão os brancos. Os negros estarão sempre em desvantagem porque a idéia é que todos evoluam e não que os negros cresçam enquanto os brancos esperam.
O prouni, uma medida paralela às cotas e importante para que as cotas funcionem, permite que todos, brancos ou negros, que tenham estudado em uma escola pública, possam fazer prova e concorrer a bolsas de estudo em universidades particulares. Digo que conheço pessoas que hoje estudam e não conseguiriam se não fosse assim. Nesses anos de governo, Salvador teve dezenas de universidades criadas. É isso que defendo. Uma cota para os negros, bolsa de estudo e possibilidade de estudar. Sei que, daqui a alguns anos, essas pessoas terão seus filhos e poderão dar melhor estudo a eles. É uma revolução de cima pra baixo e isso funciona.

Anônimo disse...

Agora sua argumentação ficou clara.
Reitero que respeito sua opinião e acho maravilhoso este debate que os blogs proporcionam, mas permaneço com a opinião que expressei no texto.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

Sempre existiu o racismo no Brasil, acontece que era um racismo "disfarçado" até porque muitos dos racistas não são exatamente saxones. Os números mostram, os negros ganham em média a metade do salário dos brancos. Mesmo na mesma função há diferença de salário (sempre a favor do branco, obvio!). Somente alguém que vive numa bolha pode afirmar que não existe racismo no Brasil!