segunda-feira, 16 de junho de 2008

Meus filhos "foram embora". Que bom!!!

Essa semana, revisando alguns textos do blog, achei este texto do Ivo de 24/03/07 e vou postá-lo em homanagem às tantas pessoas com filhos já crescidos e que conseguimos saber, pela nossa enquete, frequentam nosso blog. Obrigada a todos!

Meus filhos "foram embora". Que bom!!!

- Vocês não sentem saudades dos filhos?
- A vida de vocês não ficou vazia?
- Vocês não ficam com medo de que algo ruim aconteça a eles?
Estas eram perguntas recorrentes feitas por quase todos nossos amigos diante do fato de que nossos três filhos (dois e uma) foram "estudar fora". Poucos acreditavam quando respondíamos que: - A felicidade de vê-los (melhor dizendo, sabê-los) crescendo e se preparando solidamente para a vida superava, com folga, as saudades que (claro) sentíamos; ou - Nossa vida não ficou vazia pois nada havia "saído" dela. Ao contrário, um novo mundo havia a ela se incorporado; ou - O que de ruim poderia acontecer que não fosse possível aqui mesmo "debaixo de nossas asas"? Entendemos a estranheza. Afinal, o que fizemos foi, de fato, a "contra-mão" de uma tendência atual: filhos permanecendo nas casas dos pais até mesmo após o casamento (ou qualquer uma das modalidades de união pós-moderna!) Felizmente eu e minha esposa (Ana Paula) sempre tivemos pensamentos muito semelhantes em relação a filhos (criação, educação, emancipação etc). Estudar fora era um desses pontos sobre os quais convergíamos, embora nenhum de nós dois tenha vivido esta experiência. Aprender que as contas precisam ser pagas; que o lixo não vai embora da lata sozinho; que a geladeira não se auto-abastece; que o fogão não funciona sem gás... São pequenas e importantes lições que, na maioria das vezes, não transmitimos a nossos filhos até mesmo por acharmos que são óbvias. E não são! Deixá-los viver suas próprias experiências (boas e ruins); descobrir os caminhos; identificar e saber evitar os descaminhos; exercitar a cooperação e solidariedade do seu próprio jeito e na sua própria linguagem... Isso é crescer. Isso é se preparar para a vida! (E, porque não, aprender, por conta própria os limites entre a esbórnia e a responsabilidade!!) Claro que há alguns pré-requisitos que precisam ser cumpridos. Ter confiança de que os valores e as referências que passamos para eles são fortes e corretos o suficiente para lhes dar suporte nas dificuldades, por exemplo, é um deles. Acreditar que eles são pessoas capazes de enfrentar e resolver seus próprios problemas é fundamental. Claro que estar disponível para entrar em ação a qualquer momento que eles precisem também o é. Mas é preciso também estar preparado para "enfrentar" o fato de que eles podem não precisar de você tanto quanto você pensa ou gostaria! Sob este aspecto, por paradoxal que possa parecer, muitas vezes os filhos estudarem fora serve como fator de "emancipação dos próprios pais"!! Quanto à "vida vazia", querem saber? há muito tempo nossa vida não é tão "cheia" quanto agora. Nove anos já se passaram desde que o primeiro deles "se foi". Este, mestre em Engenharia de Alimentos, casado, desbrava os caminhos da vida acadêmica lecionando e pesquisando na Universidade Estadual da Bahia (brevemente ingressará no doutorado, possivelmente no exterior). Sete anos é o tempo decorrido desde que nosso amado "segundinho" seguiu os passos do irmão. Hoje Engenheiro Florestal (a dias de se tornar mestre) atua profissionalmente no Instituto Estadual de Florestas de MG pelas bandas do Rio Doce. Há cinco saía de casa nossa "caçulinha" que, por força de interrupções e mudança de curso continua estudando. Em tempo: Todos estudaram na Universidade Federal de Viçosa havendo um período em que constituíram uma saudável, divertida e memorável "República Familiar", com a incorporação de um primo-irmão e amigos que, com o tempo tornaram-se também irmãos. Eu falava de "vida vazia"? Pois é, hoje o que não nos falta é "casa para visitar", "locais para ir", "pretexto para viajar". E logo nós, que já não achávamos "muita graça" em viajar. Já estávamos nos tornando meio preguiçosos e acomodados!
Querem saber sobre nosso "relacionamento" familiar?
É só alegria! Nos falamos frequentemente (Ana e eles mais do que eu, que geralmente me contento em ter notícias e saber que estão bem). Quando nos vemos é SÓ AMOR! Não dá tempo de "estressar"!!! Quanto a nós dois, em casa sozinhos... Bem, já estão querendo saber demais!
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IVO FONTAN

4 comentários:

Ana Cláudia disse...

Ivo,
adorei seu texto. Espero, assim como vc e a Ana Paula, nós tenhamos essa clareza de propósito em criar nosso filhos para o mundo e não para nós mesmos.

Parabéns, mesmo!

Cristiane A. Fetter disse...

Ivo, eu ainda tenho muito que aprender nesta vida, mas de uma coisa eu já sei, nossos filhos não são "nossos" são do mundo. Os temos e criamos para esta vida de meu Deus que está aí. O interessante é isto mesmo, criar oportunidades para viver esta distância dos filhos, aprender que cada minuto com eles é SÓ AMOR, sem tempo para outras coisas e voltar a namorar o companheiro como antes dos filhos. Esta estória de síndrome do ninho vazio é para quem não tem o que fazer. Mas me diz uma coisa, o que vocês ficam fazendo em casa sozinhos mesmo? risos. Abraços

Lívia disse...

Eu sou um exemplo do outro lado, a filha que saiu de casa. Aos 21 anos eu vim sozinha morar em Buenos Aires. Meus pais me acompanharam nos primeiros dias, morrendo de medo de como tudo ia ser, e assustados (segundo eles mesmos), com a minha força de vontade e capacidade de me virar sozinha. E foi assim, aprendendo a cada dia, queimando comida ao tentar cozinhar, estragando roupa ao meter na máquina, tudo é um grande aprendizado. E, claro, não vamos esquecer que pra nós, os filhos, duas coisas são fundamentais: a liberdade e a capacidade de superar obstáculos. Pelo menos no meu caso, isso nunca significou ter que cortar relações com meus pais ou algo assim. Pelo contrário: de longe (literalmente), eles foram acompanhando essa nova vida, e sempre dispostos a ajudar.

beijos

Ana Cláudia disse...

Eu também saí de casa muito cedo e tenho certeza que a criação que recebi foi o alicerce para não fazer besteiras com a liberdade precoce.