quarta-feira, 26 de março de 2008
TENHO PRECONCEITOS SIM, E DAÍ? Parte II
SITUAÇÃO B) Uma pessoa (branca) vem voltando para casa, tarde da noite, observa que, no seu caminho está um grupo de homens pretos parados na esquina, em uma rua deserta.
Reação 1 - Toma-se de pânico. "Ai meu Deus, um "bando de pretos", a essa hora, na rua, na certa irão me assaltar! Mudarei meu caminho - Isso é PRECONCEITO!
Reação 2 - Toma-se de pânico. Ai meu Deus, um "bando de pretos". Claro que vão me assaltar. Certamente com violência, pois é da natureza deles! Mudarei meu caminho - Isso é RACISMO!(lembrando aos leitores que chegaram agora, que essa situação fictícia se passa no início do séc. XX)
Perceberam a sutileza?
O PRECONCEITO baseia-se na estatística, na probabilidade, com base na observação da realidade. O RACISMO não precisa (e nem deseja) de dados, histórico ou lógica. É doença da alma!
Na década de 60, uma série de crimes abalou a capital paulista. Mulheres jovens eram estupradas e mortas por um "maníaco" nas noites da cidade. Conhecido como "bandido da luz vermelha", graças a testemunhas que lhe escaparam das garras, logo sua descrição se tornou pública. Era louro! Pois bem, enquanto não foi capturado, o maior terror das moçoilas paulistanas era se deparar na rua à noite, com um LOURO! O medo espalhou-se e chegou, acreditem, ao Rio. Lembro-me de tias que ficaram impedidas de ir aos "bailes" dos "anos dourados" por medo do Bandido da Luz Vermelha. Em plena Vila da Penha!
O Brasil é racista? Não. Embora se verifiquem casos explícitos, em pequena escala (doentes da alma existem em qualquer lugar).
O preconceito, este perdura enquanto suas origens existem (ou permanecem, por inércia, no imaginário). Tendem a se esvaziar, como o processo em curso no Brasil, à medida em que muda-se a realidade social. Mudam-se paradigmas e referências. Mudam-se preconceitos.
Encerro contando um caso em que o preconceito me salvou e outro em que a ausência dele me ferrou!
Caso 1 - Salvo pelo preconceito:Eu morava nas proximidades da Mangueira. Um dia ao voltar para casa, na passarela da estação de Mangueira avistei um trio "com toda a pinta de bandidos". Dois eram mulatos e um branco. Meu "preconceito" me disse para não passar por ali. Obedeci. Peguei um ônibus até a Av Pres. Vargas e lá tomei outro de volta que me deixou do outro lado da estação. Perdi uns 40 min. No dia seguinte soube que várias pessoas haviam sido assaltadas pelo trio!
Caso 2 - Dancei! Agora eu morava na Ilha do Governador. Saindo de ônibus em direção ao centro, distraído não percebi a entrada de um trio (de novo um trio) na altura de Manguinhos. Quando mirei o trio no corredor do ônibus tive a certeza (pela "pinta" dos três, que também não eram pretos, embora também não pudessem ser chamados de brancos) de que iriam assaltar. Já não dava para eu sair fora. Se tivesse percebido na hora em que embarcaram eu tinha saltado no ato (por puro "preconceito!- ou seria "instinto"?).
Fui assaltado junto com todos os outros passageiros!
__________________________________________________________________________________ Ivo Fontan
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13 comentários:
Eu não entendi o intuito do seu texto. Trata-se de um arremedo de estudo etimologico (estudo da origem das palavras), um pretenso dicionário comportamental ou um ensaio preconceituoso, racista e descarado? De toda forma, se a intensão foi colaborar com o Futuro do Presente, gostaria que soubesse que como mãe, advogada especialista em direitos humanos e assessora de responsabilidade social, DISPENSO sua contribuição.
Nenhum preconceito é saudável. Gostaria de sugerir uma auto-análise: você já sofreu algum preconceito? Como se sentiu? Desrespeitado na sua individualidade e, ao mesmo tempo, em seu direito à igualdade? Vamos lá, puxe da memória aquela vez que você entrou numa loja chique sem estar bem vestido e foi esnobado por uma vendedora que achou que você não poderia pagar nada. Ou aquela vez que seus amiguinhos da escola não deixaram você se enturmar porque, mesmo sem te conhecer de verdade, não "iam com a sua cara".
Para entender o engano que é ter preconceitos, temos que ter empatia. Saber imaginar-se no lugar do outro. É o princípio da Cultura de Paz: respeite o próximo como gostaria de ser respeitado. Aliás, na minha visão, aprender a ter mais empatia e menos egoismo e egocentrismo é um dos grandes desafios que o grupo dominante deve superar para alcançarmos um mundo de justiça social e paz.
Não misture preconceito com instinto. O instinto é a capacidade de tomar uma decisão baseado em indícios consistentes, mas sem ter certeza absoluta. Preconceito é julgar ANTES de ter conteúdo suficiente para tanto.
Lamento muito ter perdido meu tempo buscando chegar ao fim de seu texto acreditando que em algum momento viria uma grande sacada, politicamente correta, ética e em favor da Cultura da Paz. Aliás, se estou escrevendo é em respeito aos demais leitores.
À propósito: louro é uma planta, loiro (com I) é um tipo de cabelo.
Ivo,
entendi melhor o primeiro texto do que o segundo. De qualquer forma, acho que essa questão de preconceito como instinto, como você coloca, é mais "pinta" do que cor de pele. Eu já fui assaltada por branco e por negro. E já sofri preconceito por ser mulher e posso dizer, é uma merda.
Eu era totalmente capacitada e até mais que o outro candidato à mesma vaga, mas ele foi escolhido simplesmente por ser homem. E foi muito ruim prá mim na época. Preconceito, independente de ser de raça, não é uma doença da alma como você colocou: prá mim é uma questão de carater. Eu tenho meus preconceitos, como acho que todos temos, em maior ou menor grau. Mas acredito que devemos, cada dia mais, lutar para perdê-los.
Quanto aos instintos, já acho o contrário: devemos cada dia mais ficar atentos, porque hoje, a bandidagem tem até cara de mulher(o que seria impensável há tempos atrás), e grávida!
Não respondo a comentários anônimos, mas somente como contribuição para os leitores, louro, além de designar a folha do loureiro, também é equivalente a loiro (flavo, fulvio). Também é uma designação para papagaio.
E "intenção" é com "ç".
Quanto ao comentário da Ana, releia meu texto e você vai ver que eu não disse que preconceito era doença da alma, eu disse que racismo era.
A propósito, ninguém me perguntou, mas minha ascendência materna é negro/indígena.
Eu errei, Ivo. Era para escrever racismo, escrevi preconceito. Falha grave no contexto...
Desculpe.
O comentário pode ter sido anônimo, infelizmente, mas bem colocado porque eu queria ter escrito para assinar embaixo. Seu texto está totalmente fora do contexto do blog, aliás, muito parecido com o texto sobre a Anistia. Acho que precisa rever seus conceitos e buscar uma atitude menos crítica e mais positiva sobre o mundo. O blog tem posts que mostram boas notícias ou possíveis soluções. Alguns desabafos, mas nada comparado a isso que escreveu. Talvez você devesse rever seu texto porque, se não teve a intenção de ser preconceituoso, foi. Preconceituoso e muito. Talvez devesse fazer um blog seu para emitir pensamentos tão próprios e tão preconceituosos.
Cara (o?) Geo
Minha resposta vai na forma de post (que neste momento envio para a Ana Cláudia).
Creio que você ficará feliz!
Gente, vamos nos acalmar.
Prá começar, tenho certeza de que o Ivo não teve nenhuma intenção de ser racista, preconceituoso e muito pelo contrário. Eu mesma falei que entendi melhor a primeira parte do que a segunda. Pode ser uma limitação do texto dele, ou uma limitação da minha interpretação.
Contudo, este espaço é totalmente aberto para todos, inclusive os comentários anônimos por entendermos que qualquer opinião é válida. Só recusamos as ofensivas.
Ninguém aqui tem obrigação de concordar com tudo o que escrevemos. Se estamos aqui é para promover o debate. Nem sempre escrevemos extamente o que sentimos , assim como nem sempr entendemos o que o texto quer expressar. E aqui, acredito que tenha acontecido as duas coisas.
Vamos manter o debate de forma sadia como sempre. Se um de nós esquecer que estamos aqui para isso, este espaço perde sua finalidade.
Beijos!
Ivo,
eu entendi o que você quis dizer!
Mas vou colocar noutras palavras: a maioria dos bandidos tem cara, por exemplo. Não importa se é branco, negro, louro, ruivo ou azul.
E se a gente se protege porque aquela "pinta" nos remete a um pré-conceito de bandido, então a gente tem mais que se proteger porque não dá prá pagar prá ver não.
Agora, se estamos na rua e ficamos com medo SÓ porque é preto, aí é racismo.
Eu entendi perfeitamente.
Então Ivo, aguardarei esse post anciosamente porque quero realmente perder essa má impressão que se instalou com o post. Isso que chama indevidadmente depreconceito, nada mais é do que nosso estado de alerta que deveríamos ouvir independente de cor, roupa ou local. Por isso que não vejo nehuma lógica entre perceber uma situação inusitada e associar à cor de alguém. Talvez eu seja privilegiada de viver numa terra de negros e vê-los nas universidades, cargos públicos, indústria e comércio. Talvez deva vir à Bahia e entender o quanto esse texto fere.
Geovana (mulher, branca, filha de brancos, mas com mistura de cor, raça e cultura)
Falar de preconceito é altamente complicado. Aproveitando o gancho da mensgem acima que fala que o texto dele fere muito quando se entra num lugar como a Bahia onde grande parte da população é negra, acredito que o texto do Ivo Fontan foi equivocado na forma de escrever e nos leva, como é muito comum, pensar só em preconceito de cor. Preconceito de cor é apenas UM dos muitos preconceitos. Preconceito é pagar menos às mulheres, preconceito é achar que todo mundo que mora em favela é bandido, preconceito é achar que latino é inferior, preconceito é achar que toda loura é burra.
Façam-me o favor de pensar mais amplamente e deixar de sermos hipócritas é o primeiro passo para acabar com os preconceitos!
Preconceito é achar que quando se fala de preconceito, só se fala de preto!
Tem preto não gosta nem de ser chamado de negão!
Mas chamar um branco de branco azedo, de branquelo, não é preconceito. Mandar uma mulher ir pilotar fogão, também não é?
O preconceito está na alma como o Ivo Fontan falou e menos que isso, é hipocrisia, balela, blá, blá, blá.
Devo concordar...
Concordo com o Ivo que o preconceito tem um lado positivo de proteção instintiva. Não vamos falar de cor porque não é esse o fato. Vamos falar de aparência.
Se estou na rua e vejo alguém com aqueles casacos de capuz que não dá prá ver o rosto, por exemplo, eu fujo. Não me interessa nem se é padre.
Se estou no trânsito e vejo uma moto com dois na garupa, já fico alerta. Não me interessa se é mulher grávida!
Isso é preconceito, gente, mas diante do quadro atual, quem fica e paga prá ver?
E eu já contei aqui (http://ofuturodopresente.blogspot.com/2008/02/1-ano-sem-joo.html), meu marido já foi assaltado no trânsito com arma na cabeça, já foi levado pro morro, minha casa já foi invadida, minha mãe e vários familiares e amigos já foram vítimas da violência, inclusive uma morreu queimada num ônibus e mais situações, infelizmente.
E eu já desci de ônibus mais de uma vez quando estudante (olha que tem tempo isso) porque tinha gente esquisita lá atrás. Não pagava prá ver, não.
Quando minha casa foi assaltada, eu vi um motoqueiro rondando a casa. Gente, juro, meu anjo da guarda me alertou 8 vezes (depois de tudo eu contei quantas vezes me veio o sentimento de que algo ia acontecer) mas eu achei que era coisa da minha cabeça "carioca" assustada. Não deu outra, um rapaz, de boa aparência numa moto sem placa, passou duas vezes bem devagar, olhando disfarçadamente. A moto não tinha placa. Acontece que isso é muito comum e a gente acaba se acostumando com rapaziada que usa moto sem placa para economizar no licenciamento e anda com ela só nas redondezas, principlamente o filhos de papai, menores de idade). Outra praga, aliás...
Quem atira a primeira pedra contra pessoas e lugares de aparência altamente suspeita, independente da cor da pele (que fique claro). Até porque bandido não tem cor!
Falando de raça?
Vou dizer o que é uma raça:
motorista de ônibus é uma raça...
advogado é uma raça....
ah...
taxista também...ô raça!
muito barulho por nada...
me lembrei do texto de hoje do sérgio dávila, na revista da folha (http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf0604200802.htm), falando de como o "politicamente correto" está beirando o ridículo nos estados unidos, com os inúmeros casos recentes de processo de crianças por assédio sexual.
a gente aqui tá meio atrasado, mas pelo visto já já chega lá!
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