Nicholas Winton jamais teve uma surpresa tão grande quanto a que estaria por vir. Durante o terror vivido na Alemanha nazista, ele salvou a vida de 669 crianças. Mas perdeu totalmente o contato com elas. As crianças viraram adultos. O dia do reencontro chegou. A história de Winton é feita de lances incríveis. Discreto, jamais quis ser visto como herói: preferiu guardar em segredo o bem que fez. Não disse nem à mulher que tinha salvado a vida de tantas crianças. Ao arrumar o sótão de casa, a esposa descobriu, por acaso, um velho álbum, coberto de poeira. Lá estavam fotos de crianças, cartas e telegramas e uma lista com nomes e datas. Quando procurou saber, a mulher de Winton descobriu que aquelas eram crianças que tinham sido salvas por ele. O que teria acontecido com essas crianças? O bem que Winton fez rendeu frutos. O futuro transformou aquelas crianças em escritoras, cineastas, engenheiros, guias turísticos, jornalistas, biólogos, políticos, enfermeiros, editores, professores... A lista é enorme.
Férias na Thecoslováquia
Quanto tinha apenas 29 anos, Winton viajou para a Thecoslováquia em companhia de um amigo nas férias de fim de ano. Lá, ficou impressionado com o clima de medo: a Thecoslováquia já estava sob o domínio da Alemanha Nazista. Winton teve uma idéia: tentar mandar para fora da Tchecoslováquia crianças de famílias perseguidas. Começou a escrever por conta própria para vários países pedindo ajuda. Organizou uma primeira lista de nomes. Somente a Inglaterra e a Suécia aceitaram receber aquelas crianças. Winton organizou a viagem. Era uma decisão difícil: para escapar do horror nazista, as crianças teriam de ser mandadas para longe dos pais. O embarque das crianças nos trens que as levariam para longe teve momentos de emoção. Uma mãe chegou a subir no trem para pegar a filha de volta. Mas mudou novamente de idéia e terminou deixando que ela embarcasse. “Nunca me esqueci da angústia que pude ver no rosto dos meus pais”, diz uma das mulheres que foram resgatadas.
Despedida
As crianças que partiram para um lugar seguro, a Inglaterra, não sabiam, mas jamais veriam os pais de novo. A maioria dos pais morreria nos campos de concentração nazistas. “Nós ouvíamos falar sobre a possibilidade de que nossos pais tivessem sido enviados para os campos, mas alimentávamos a ilusão de que talvez eles tivessem escapado”, diz uma sobrevivente. “Eu entendi que não veria os meus pais de novo, é difícil falar, desculpe. Sempre acreditei que a família é o que existe de mais importante”, confessa um homem, que um dia foi uma das crianças salvas por Winton. “Guardo a carta que meus pais me mandaram dias antes de serem enviados para um campo”, diz. Se é verdade que quem salva uma vida salva a humanidade, o que dizer de quem salva 669 vidas? Quando desembarcaram na Inglaterra, lá estava Nicholas Winton esperando por elas. Uma imagem rara registra o herói na plataforma de desembarque com uma das crianças. Winton só lamenta que o último trem, que traria 250 crianças, não tenha conseguido sair da Tchecosváquia: o início da guerra, no dia 1º de setembro de 1939, tornou a viagem impossível. Nenhuma das crianças que não conseguiram embarcar sobreviveu. Também foram mandadas para os campos de extermínio. Winton se alistou na força aérea. As crianças que tiveram tempo de embarcar para a Inglaterra na caravana organizada por Winton foram encaminhadas para casas de família e abrigos.
Retribuição
Winton nunca falou sobre o que tinha feito. Espalhadas por vários países, as crianças cresceram sem ter notícias do bem feitor. As crianças se tornaram adultos generosos. “Para expressar a gratidão pelo que aconteceu comigo, tento ajudar os outros”, diz outro sobrevivente. “Adotei três crianças”, completa um homem. “Hoje, trabalho dois dias por semana como voluntário num hospital infantil”, revela um engenheiro. “Uma das melhores características do ser humano é a decência. Nicholas é uma dos seres humanos mais decentes que conheci”, diz o jornalista salvo por Winton. Desde que a história de Winton se tornou pública, ele começou a receber todo tipo de homenagens. A rainha da Inglaterra chamou-o ao palácio para entregar uma condecoração. O governo da Tchecoslováquia fez uma grande homenagem. O presidente dos Estados Unidos mandou uma carta de elogios e agradecimentos. Mas o agradecimento mais comovente veio daqueles que Winton um dia salvou da morte certa. Um programa de TV inglês encheu o auditório de sobreviventes que foram salvos por ele quando eram crianças, mas nunca o tinham encontrado. Primeiro, a apresentadora do programa avisou a Winton que a mulher sentada ao lado tinha sido uma das crianças que ele salvou. A apresentadora pede: “Quem, na platéia, teve a vida salva por Nicholas Winton, fique de pé, por favor...” O agradecimento vem em forma de aplausos demorados e lágrimas. Tanto tempo depois, só havia uma palavra a dizer a ele: “obrigado”.
Fazer o bem
O que é que o herói discreto tem a dizer sobre o que fez? Aos 98 anos de idade, Nicholas Winton gosta mesmo é de ficar em casa, longe da agitação das grandes cidades, no interior da Inglaterra. Tudo o que quer é cuidar do jardim. Usa o tempo livre para ajudar um asilo. Por que o senhor guardou segredo? Nicholas Winton: Não é que eu tenha ficado em silêncio. O que aconteceu é que eu não tinha o que dizer sobre o que fiz. O senhor se considera um herói? Winton: Não me vejo como um herói. Para ser herói, alguém precisa fazer algo de perigoso. Não fiz. O que fiz foi algo que os outros achavam impossível. Mas eu tinha de tentar, para ver se era possível ou não. Mas fazer algo que todo mundo achava impossível não é um gesto heróico? Winton: Não é um ato heróico. Meu lema é: se algo não é obviamente impossível, então deve haver uma maneira de fazer. Qual foi a lição que o senhor tirou de tudo o que viveu? Winton: Aprendi que nossa vida não é o que a gente espera. Todas as coisas importantes acontecem por acaso. Aconteceu de eu estar na Tchecoslováquia na hora certa. Tive a idéia certa de resgatar as crianças quando todo mundo achava que nem valeria a pena tentar. Com que freqüência o senhor pensa nas crianças que não conseguiram escapar? Winton: Sempre penso nelas, porque poucas horas fizeram a diferença entre iniciar uma vida nova ou serem mortas. Não se ouviu falar daquelas crianças. Se tivesse a chance de se dirigir agora aos que o senhor salvou, o que é que o senhor diria? O senhor acha que fez o mundo um lugar melhor? Winton: É preciso mais do que um Nicholas Winton para fazer do mundo um lugar melhor. Mas tudo é uma questão é uma visão. Quase todas as crianças que salvei estão envolvidas hoje em trabalhos de caridade. Estão fazendo o bem. O importante não é chegar em casa de noite e dizer, passivamente: “Hoje, eu não fiz nada de mal”. O importante é chegar em casa e dizer: “Eu hoje fiz o bem.
Atualmente circula na República Tcheca um abaixo-assinado pedindo que Nicholas Winton receba o prêmio Nobel da Paz.
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL237574-5602,00.html
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM768987-7823-N-A+HISTORIA+DO+HOMEM+QUE+SALVOU+CRIANCAS+DA+MORTE,00.html
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Pessoas que fazem diferença no mundo
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2 comentários:
Ana, que coisa linda. E essa mensagem é tudo: não dizer "eu não fiz nada de mal", mas "eu fiz o bem". Lindo.
Li agora lá no blog da Denise Arcoverde sobre o caso da Daniella Perez e os mal-entendidos sobre o caso do seu assassinato, e a Denise pede que sejam divulgados vídeos que a Gloria Perez fez sobre o caso:
http://sindromedeestocolmo.com/archives/2008/06/o_caso_da_daniela_perez_no_you_tube.html/
Pensei que talvez o assunto coubesse aqui.
A gente sente tantas vezes que a humanidade não tem jeito e aparecem pessoas assim...
Ainda há esperança.
Eu te admiro.
Olha, queria dar conta de tantas coisas e ainda ler tantos blogs e artigo interessantes.
Puxa vida, me ensina?
Vou lá ler.
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