22/08/2008
por Dayane Cunha
Fonte: http://www.revistasustentabilidade.com.br/
Embora ainda sejam reutilizadas para confecção de porta-canetas, brinquedos de sucata ou vaso de plantas, as garrafas de PET começam também a virar matéria-prima para a confecção de tintas, adesivos industriais, roupas e acessórios, gerando uma corrida pela garrafa descartada, cujo valor de mercado já dobrou nos últimos 10 meses.
Tanto os setores que mais utilizam o PET - um plástico totalmente reciclável chamado politereftalato de etila - como fabricantes de refrigerantes, quanto as indústrias que utilizam o material reciclado, como a têxtil, e até o setor varejista, comemoram o aumento da reciclagem de PET, porque demonstram que suas atividades podem tornar-se menos danosas ao meio ambiente.
No entanto, são os catadores os verdadeiros responsáveis por grande parte do boom do pet.
As cerca de 300 mil pessoas que puxam os carrinhos nas ruas brasileiras ou que reviram o lixo nos lixões, tornaram-se um elo importante da cadeia por falta de políticas públicas estaduais e municipais que incentivem a reciclagem, e por falta de uma lei nacional que regule a produção de resíduos. Andando de porta em porta nas cidades brasileiras, estes trabalhadores recolhem o material e vendem para os ferros-velhos, tirando do PET parte de suas rendas, em média, de um salário mínimo.
O resultado desta atividade, a maioria informal, garantiu ao Brasil o segundo lugar do mundo na reciclagem de PET, perdendo apenas para o Japão. Em 2006, 51,3% do PET consumido no Brasil voltou ao mercado por meio de reciclagem, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), que estima que em 2007 este índice tenha chegado a 53% e que este ano deve continuar crescendo, podendo atingir futuramente os níveis de reciclagem de latas alumínio, que, com forte demanda industrial, chega acima de 90% de reciclagem pós-consumo .Mesmo com a falta da vontade politica para organizar o mercado, atrás da demanda por PET usado existe uma mistura de inovação tecnológica e regulamentação pontual do mercado que permitiu novos usos para o PET reciclado.Segundo o responsável pela comercialização dos materiais recicláveis da Rede CataSampa (rede de cooperativas de catadores do estado de São Paulo), Marcos Antonio de Lima, a procura pelo Pet aumentou para a confecção de novos produtos.
Além disso, a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em março deste ano, do uso de pet reciclado para produção de embalagens para alimentos também movimentou o mercado, embora as empresas ainda não tenham conseguido a aprovação para utilizá-lo em alimentos, segundo o responsável pela área de relações com o mercado da Abipet, Hermes Cortesini. A principal exigência para o uso do polímero é o registro do produto na Anvisa e rotulagem do produto reciclado.
Outros fatores importantes também contribuíram para a valorização do material, entre eles, a mobilização dos fabricantes de PET, que não querem ver seus negócios diminuírem com as campanhas contra os plásticos. No caso do PET, recentemente ocorreram várias manifestações, principalmente, no exterior contra as garrafas de água, e campanhas a favor da "água de torneira" foram feitas.Nesta conjuntura, a Coca-Cola anunciou em fevereiro a construção de uma usina de reciclagem de PET no Brasil, como já fez em diversos países. A unidade deve começar a operar até o final do ano. Enquanto a rede de hipermercados Wal-Mart lançou um cobertor feito de PET reciclado no início do ano.E é exatamente a reciclagem do material para a confecção de tecido que, no entanto, demonstra ser um dos principais fatores para o aumento do valor do PET e a indicação de que já falta material no mercado.
Em 2006, a indústria têxtil já consumia 40% do PET reciclado. E segundo estimativas da Abipet, divulgadas no Jornal do Comércio, este número alcançou metade do volume reciclado.Embora sejam mais caras que as roupas feitas somente de algodão, o setor está otimista. Segundo Ana Cláudia Bessa, da empresa de confecção de roupas Futuro do Presente, que entrou no mercado no final do ano passado, a demanda por roupas feitas com PET reciclado tem aumentado pela necessidade de mudança de hábitos."Precisamos mudar nossos hábitos de consumo e buscar produtos que tenham origem reciclada", disse, apontando que uma das motivações para entrar no setor foi a sua própria consciência ambiental. "Tudo neste projeto é voltado para o futuro dos nossos filhos. Precisamos mudar nossos hábitos e nos conscientizar de que somos responsáveis não só por eles mas pelo futuro que vamos deixar para eles".Ela conta que seu produto além de já agregar valor por ser feito com material reciclado, auxilia na educação ambiental, tanto dos pais, consumidores do presente, como das crianças, as consumidoras no futuro.
Para a fabricação do tecido, o PET é moído, lavado, e fica em estado de resina. A partir de então, são feitos os fios de poliéster, que serão misturados ao algodão para a produção dos novelos.Ainda que a consciência ambiental e a preservação dos recursos naturais sejam pontos primordiais na questão, a lucratividade do novo negócio ainda é importante. Segundo apuração da Revista Sustentabilidade, uma camiseta de 50% de PET reciclado custa entre R$25 e R$30.VOLTANDO AOs CATADORESDonizete Casemiro Marques, catador na Zona Leste da capital paulista, está vivendo o boom do PET, que segundo ele, começou no início de 2008."No começo do ano o PET valia R$ 0,30 [por quilo] e agora está valendo, em média, R$ 0,60", afirmou à Revista Sustentabilidade, enquanto fazia a separação dos materiais em um lixeira de um condomínio.Conseqüência do aumento da demanda, que também refletiu no preço pago aos catadores, é a separação do PET dos outros plásticos. Marques contou que até o ano passado, muitos ferros-velhos compravam PET com outros plásticos, em média a R$ 0,30. A medida que os ferros velhos começaram a pagar mais pelo PET separado, os catadores mesmos começaram a fazer um atriagem prévia do material.Para receber R$0,60, Marques tem que juntar cerca de 20 garrafas.Ele, no entanto, suspeita que os ferros-velhos já estão vendendo o quilo do PET a um preço que pode ser o dobro do recebe. "Talvez até mais que o dobro", especula, "pois os ferros-velhos podem acumular quantidades grandes a custos baixos e, revendem para indústrias que recolhem o material no local".
Uma das razões por esta discrepância entre o preço recebido das indústrias pelos ferros-velhos e o preço pago ao catadores é falta de escala, pois muitos catadores trabalham isoladamente.Para Hermes Cortesini, responsável pela área de relações com o mercado da Abipet, em entrevista à Revista Sustentabilidade, o cooperativismo pode dar mais poder de barganha para os catadores, o que indica que não é apenas uma exploração dos catadores, como alegam muitos trabalhadores de rua."Esta não é uma postura generalizada já que existem muitos sucateiros que não fazem esta exploração do catador", defendeu. "E também existe o catador que se recusa a trabalhar em cooperativas".
Cortesini explicou também que o preço recebido na venda do PET pelos ferros velhos às indústrias depende muito do tipo de ferro-velho. Algumas já trituram o material e outras o vendem inteiro para as grandes indústrias, assim, o preço varia entre R$ 0,80 e 1,30.Confirmando esta avaliação, segundo Lima, da Catasampa, nas cooperativas de catadores o preço é parecido com as empresas de sucata, cerca de R$ 1,25.Preço que a empresa Litoral Limpo, localizada no litoral paulista, consegue. Ela vende por R$ 1,25 o quilo quando tem que transportar o material até a indústria. Quando o material é retirado pelo comprador, o preço cai.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Com novos produtos, país vive boom do PET reciclado
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