terça-feira, 4 de setembro de 2007

Recado da Mercedes

RECICLAR PARA PRÉ-CICLAR?
E eis que um belo dia você toma a decisão de fazer a sua parte por um planeta menos poluído e viável para as futuras gerações...
E por onde começar?

É tanta coisa que você já leu na internet, já viu na televisão, já ouviu dos amigos - um oceano de informações, às vezes até contraditórias.

Mas você quer fazer alguma coisa, você resolveu que não quer mais ficar simplesmente observando o caos se instalar...

E então você começa pelos básicos: aqueles conceitos que seu filho de 4 anos está aprendendo no jardim da infância (e fica inclusive te pedindo os materiais de sucata, que você precisa colocar na mochila dele para as atividades em sala de aula).

São os famosos 3Rs: reduzir, reutilizar, reciclar.

Mas hoje eu vim subverter ligeiramente essa ordem dos 3 Rs, a fim de que você tenha uma experiência pedagógica sem ter que voltar à escola.

É verdade. Não estou de gozação!

O que eu tenho observado é que muitas vezes as mudanças de hábitos arraigados de consumo são tão difíceis para as pessoas, que elas acabam por desistir sem mesmo ter começado.
Para aplicar a regrinha do Reduzir, você precisa ir às compras imbuído de uma consciência ambiental que só se adquire com alguma paciência e transformação interior.

Então minha sugestão é que você comece pelo R de Reciclar. Sim, comece pelo último R!!!
E vou explicar , mais ou menos o que acontece aí na sua casa quando você começa a separar o lixo em compartimentos diferentes para encaminhar à reciclagem.

Claro que vou ser generalista, cada família tem um nível diferente de interação e hábitos... mas é algo assim:
1- primeiro você vai juntar o pessoal da casa e explicar a nova medida doméstica.
2- vão decidir quantos e quais materiais vão ser separados e pra onde vão ser encaminhados (se para a coleta seletiva da cidade ou para uma cooperativa de catadores, ou ainda para um único catador conhecido na rua).
3- vão providenciar o espaço onde esses materiais serão acondicionados.
4- finalmente vão começar a fazer uso das lixeiras separadas... e aí começa a transformação! Do item 5 em diante estou apenas fazendo conjecturas baseadas em várias observações...
5- alguns membros da família demoram mais pra se acostumar, reclamam, e começa-se a falar sobre meio ambiente nas conversas domésticas.
6- vocês começam a reparar que o lixo orgânico é infinitamente menor que o restante dos recicláveis, e que os produtos vêm com embalagens em excesso, sem necessidade.
7- você começa a observar que o lixo orgânico é riquíssimo em nutrientes e fica pensando se não haveria um destino melhor do que o aterro sanitário, afinal pra quê adubar "plantação de lixo"?
8- em alguns dias você não sabe em qual dos recipientes colocar determinadas embalagens, já que o catador (por exemplo) não quer nem saber de levar isopor, porque não compensa pra ele.
9- você fica com vontade de boicotar os produtos que vêm com isopor... apesar de terem aquele símbolo de reciclável no fundo.
10- idem com os tetrapak.
11- as pilhas e baterias, meu Deus!
12- um dia você se descobre na gôndola do supermercado, olhando para a embalagem dos produtos que vai levar!!!

E aí você está "no ponto" para começar a pré-ciclar, para usar o R de Reduzir.
Parabéns: você chegou vivo até aqui!
E agora sofreu uma transformação interior e um aprendizado que não ficou só na teoria.

Má notícia: você nunca mais será o mesmo relax de antes.

Boa notícia: você é mais um verdadeiramente empenhado na sobrevivência da nossa espécie.

__________________________________________________________________________________ Mercedes Lorenzo

12 comentários:

Ana Cláudia disse...

Mercedes, comnforme já conversamos, eu estou vivenciando exatamente o que você narrou no seu texto. É exatamente assim que acontece!

Eu ainda vou ligar para a empresa de lixo pois os coletores do que Eco-posto, como te falei, separam apenas vidro, baterias , latas de aluminio e pet.

Metais, papel, madeira e plástico comum, vão num mesmo coletor. Só pedem para que seja limpo.

A Associação de moradores me informou que eles têm pessoal específico para separar este lixo.
Eu espero que sim.

Mas vou ligar para lá para saber mais sobre isso, e sobre tetrapack, isopor, embalagens metalizadas (como a de biscoitos), tampa de iogurte, borracha, e mais uma pá de itens que na hora de jogar no lixo a gente fica na dúvida. Isso é papel ou metal, é borracha ou é plástico (como os vedantes de copos de requeijão)?

Mas é isso assim, só se aprende praticando!

Cláudia Costa disse...

Amiga Mercedes,

Parabéns pela estreia no "Futuro do Presente", este Blog de que já sou fã também, pelos temas atuais e urgentes que tem trazido para discussão.
A imagem que você descreveu é exatamente a que acontece com quem é "picado" pelo conhecimento. Um conhecimento que não tínhamos há alguns anos atráz, porque nunca nos ensinaram à reciclar, que dirá pré-ciclar.
É olhar o banheiro e ver quantos potes inúteis nós temos, quantas embalagens, quantos vasilhames, quanta quinquilharia amontoamos ao longo de nossa vida aqui na Terra. Multiplique isso por 6.0000.00000 e vamos constatar que o maior problema ambiental que deriva em todos os outros é o descarte de nosso resíduo. Em todos os aspectos, o Lixo é o grande calcanhar de aquiles da nossa Civilização. Depois que se descobre, é impossível não pensar no assunto.

Abraços Fraternos, Água e Luz!

Silvia D. Schiros disse...

Mercedes, é bem por aí mesmo. Às vezes fico horas olhando as gôndolas e prateleiras para decidir o que vou levar. Outro dia, comprei um pedaço de queijo e fiquei pê da vida, pois ele estava embalado com um plástico (tipo vácuo) e o pessoal "esperto" do mercado, em vez de colar a etiqueta do preço direto em cima desse plástico (fechadinho, fechadinho), tascou um filme plástico por cima. Meu Deus, não é só anti-ecológico, é anti-econômico! E acho que é por aí que algumas pessoas precisam ser "picadas": pela questão da economia. Os gerentes de supermercado têm que aprender isso. Menos embalagens = mais economia.

Eu não relaxo mais na hora das compras, e confesso que às vezes xingo a mim mesma por essa mania de querer ser ecológica... E fico com o maior peso na consciência quando me encho e resolvo deixar a ecologia de lado.

Mas as sacolas reutilizáveis de compras estão sempre a tiracolo, muitas vezes até para fazer compras no shopping! (Confesso que queria uma sacola mais bonitinha pra isso, não aquela de feira, mas de vez em quando resolvo pagar o mico.)

Adorei o teu texto.

Cristiane A. Fetter disse...

Oi Mercedes, isto tudo é verdade o que voce disse. Até porque para quem tem mais de 30 anos sabe como é ser criado em um mundo onde nao se tinh preocupação com isso.
As vezes é difícil mudar hábitos arraigados, mas quem tem meio dedo de juízo consegue.
Aqui onde moro (EUA), mesmo que voce não queira, tem que aprender a reciclar, pois os lixeiros são orientados a reconhecer nos container o que não deveria estar ali e se você reincindir no erro acaba levando uma multa.
E não tem essa histório de ser amigo do pessoal do caminhão de lixo não, eles pedem desculpas e dizem que não podem levar.
Mas aqui a coleta regular e a reciclagem funcionam.
Quanto mais se educar nas escolas de que isto é necessário, mas resultados teremos.
Adoro a forma como você aborda este tema, simples e direto.
Abraços

Anônimo disse...

Olá pessoal!

Primeiro de tudo, deixa eu dizer que estou felicíssima por poder participar deste blog que sempre admirei.

Ana Claudia, é isso amiga... a gente tem que ir se informando enquanto tenta fazer o correto. Existem aquelas embalagens que simplesmente não se sabe o que fazer com elas. Há leis que responsabilizam o fabricante pela destinação final de seus produtos, mas no Brasil não somos muito informados a respeito delas.

Claudia: falou muito bem - o nosso lixo é o problema ambiental mais premente, a meu ver. Pois se formos parar pra pensar, até mesmo a poluição do automóvel também faz parte de nosso lixo pessoal e intransferível.

Silvia: valeu! Gostei muito do teu comentário... sacolas reutilizáveis forever!!! (risos)
É assim mesmo, a gente não consegue mais ser a "desencanada" de antigamente, né!

Cristiane: puxa, chega a dar inveja mesmo o que você falou sobre a seriedade da coleta seletiva aí nos EUA! Temos tanto que melhorar por aqui... vamos em frente! Obrigada pelo incentivo, viu amiga :-))

Beijos a todas!!!

Anônimo disse...

Valeu Mercedes
Excelente post. Começou em grande estilo.
Benvinda, de novo.

Anônimo disse...

Valeu Ivo, obrigada!
Abração.

Alice disse...

Excelente blog! Pergunta: As empresas que produzem tetaprak dizem que é reciclável, mas como os catadores não levam, acaba indo tudo para os depósitos de lixo, principalmente em minha cidade que não tem coleta seletiva, apesar de termos um prefeito arquiteto que devia ser mais ligado nas questões ambientais mas que tem desnudado nossa bela cidade de suas árvores mais belas...
Deviamos cobrar das empresas, como elas não resolver, deixar de consumir produtos com embalagens longa-vida.Voltar ao leite tirado de pequenas propriedades que nos chegam em leiteiras de aluminio e que ajudam o pequeno produtor a se fixar na terra e não engrossar a fila de favelados das grandes cidades.

Anônimo disse...

Oi Alice,
é justamente esse o grande problema das embalagens tetrapak: existe o processo de reciclagem no Brasil, mas ainda é tão restrito (existe apenas uma unidade de processamento em Bonsucesso, no Rio de Janeiro) que na prática vai tudo parar no lixo mesmo. Não há uma campanha da empresa no sentido de facilitar o encaminhamento para reciclagem. Para os catadores não compensa. Eu estou até hoje esperando a resposta de uma solicitação que fiz ao consultor de reciclagem da Tetrapak sobre isso (desde abril/2007).
Quanto à sua sugestão de consumir preferencialmente mercadorias de produtores locais, é excelente. Além de não estimular o êxodo rural, é gasto menos combustível no processo de distribuição e os alimentos necessitam de menos conservantes, uma vez que ainda chegam preservados ao consumidor final.
Obrigada pela participação,
Abraços.

Ana Cláudia disse...

Mercedes,

Falei com a empresa que recolhe meu lixo, inclusive do eco-posto e ela me informou que as tetra-packs colocadas na coleta seletivva vão para uma fábrica de telhas feitas com a reciclagem deste material.
Não me deu detalhes, pode não ser verdade, mas o atendimento e a disponibilidade dela me deram bastante credibilidade.
Uma boa notícia.
A fábrica fica em Seropédica-RJ.

Anônimo disse...

Os comentários da Alice e da Mercedes remetem a uma postagem minha lá dos primórdios do blog. Nela eu sugeria que buscássemos mais os produtos locais ou regionais na hora das compras.
Existe um "mundo" de bons produtos, em todos os setores (não só no alimentício), fora do "circuitão" das multinacionais. É só prestar atenção. Estes produtos costumam estar disponíveis nos mercados de menor porte, ou mesmo nos grandes, só que geralmente não estão nas partes nobres dos displays ou das gôndolas. Para achá-los é só ler os rótulos.

Anônimo disse...

Ana Claudia,
boa notícia mesmo! Você sabe se eles recebem material recolhido de outras cidades?

Ivo,
eu lembro desse seu post, sim!
Aqui no sul o pessoal costuma chamar esses produtos pelo apelido genérico de "produtos do colono". Eu sempre procuro lá no fundo do supermercado as bancas que têm os tais produtos de colono, que são produzidos aqui perto e em geral são mais artesanais, com menos conservantes e corantes. Alguns dão de "goleada" nos produtos das grandes marcas... e aqui em Santa Catarina principalmente as compotas, queijos e geléias.