Estava respondendo a um e-mail da Ana Cláudia Bessa e no meio do texto contei um episódio acontecido comigo quando ainda trabalhava na NABISCO hoje Kraft Foods no Rio de Janeiro.
Eu atuava como assistente direta do diretor de grandes contas de supermercados no Brasil, muita responsabilidade, muita ralação, muuuuuuuuuita coisa pra aprender e os anjos foram generosos e me "deram" de presente um chefe que me ensinou coisas muito importantes principalmente profissionalmente e em muitos casos, para usar na minha vida pessoal também.
Este episódio trata de um projeto que eu iria participar e que ele levou horas tentando me explicar o processo de funcionamento, e o tal não entrava na minha cabeça nem por sete samburá de maxixe, e eu claro já estava me achando a criatura mais burra do planeta.
Finalmente ele (já nervoso), olhou para mim e disse:
-Eu não estou conseguindo explicar de uma forma clara, é por isso que você não está entendendo.
Pensou um pouco e começou tudo de novo de outra forma, inclusive com desenhos.
Então finalmente eu entendi e ele falou o seguinte para mim.
-O problema não estava em você não conseguir entender e sim em mim, que já tenho o projeto completo na mente, e não conseguia fazer você entender o que eu visualizava.
Grande mestre, hoje ele é diretor de grandes contas na Nestlè em São Paulo.
Isto me remete também as odiosas aulas de matemática que eu tinha. Claro que como toda criança odiava a matéria. Quando cheguei ao antigo segundo-grau comecei a ter aulas com um professor que passava os exercícios no quadro, gastava 5 minutos explicando, e depois sentava em sua mesa para ler o jornal e exigia que fizéssemos o "dever" até o fim da aula. Claro que esta criatura foi convidada a se retirar do colégio e outro entrou.
Do primeiro eu não lembro o nome, mas do segundo sim. Era Edson e no primeiro dia de aula, depois das apresentações ele falou em alto e bom som. Matemática só tem tamanho e sacanagem! E teve a maior paciência do mundo para explicar a matéria. Nem preciso dizer que depois deste dias eu e meus colegas de turma só tirávamos boas notas.
Carrego até hoje isto comigo em várias "explicações" que dou em minha vida. Claro que como todo ser humano normal eu tenho os meus chiliques, e as vezes não tenho paciência para explicar, mas consigo entender que na maioria das vezes o problema está comigo.
Eu gosto de usar a seguinte frase: muita atividade cerebral para pouco dedo ou neste caso pouca boca. Quando a gente está engajado em um projeto, trabalho, serviço, namoro ou outra coisa qualquer fica meio fora do relacionamento normal com os outros humanos e não conseguimos passar isto com clareza para eles.
Isto aconteceu muito comigo e com a empregada doméstica que eu tinha, uma vez pedi uma série de atividades para ela realizar e saí logo depois, estava com pressa e atrasada. Quando voltei para casa nada do que eu pedi estava feito como eu solicitara. Claro fui em cima da pobre e cobrei, ela me olhou com cara de vazio e disse que não tinha entendido a metade do meu pedido. Que eu tinha falado muito depressa, sem detalhes e tinha ficado toda enrolada.
Coitada a culpa não era dela, eu é que botei o carro adiante dos bois. Sentamos juntas e com calma eu fiz o roteiro do que queria, perguntei se ela tinha entendido e com a resposta sim, tudo foi feito rapidamente. Ahá!
A gente quer logo que todo o mundo entenda o nosso ponto de vista, mas tem pouca paciência para explicar, pouco tato, pouco tempo ou outro pouco qualquer.
Eu sei, eu sei que muitos vão pensar assim: Ah mas tem muita gente que é uma mula, não adianta explicar que não vai entender.
Aí eu digo: Tente invente, faça de uma forma diferente.
Eu sempre faço uma brincadeira com meu marido quando vejo que ele não entendeu algo que eu pedi ou disse: pergunto se ele quer que eu desenhe. É uma brincadeira, mas os homens são muito visuais, enquanto as mulheres são mais, digamos assim, auditivas.
Termino então perguntando: existe gente burra, ou mal ensinada?
__________________________________________________________________________________ Texto de Cristiane A. Fetter
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
VOCÊ ENTENDEU?
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3 comentários:
Cristiane, como você sabe, eu sou professor. E para piorar, de química, que, como você também sabe, integra a "tríade infernal", junto com a matemática e a física, para a maioria dos alunos "normais".
Pois tendo consciência disso, eu sempre parti do princípio que se os alunos não estivessem entendendo o que eu dizia, SEMPRE a probabilidade maior era que EU não estava explicando direito.
Agindo assim consegui verdadeiros "milagres", fazendo não só que a maioria aprendesse como GOSTASSE de química.
É simples e infalível, mas tem que ter consciência de que ser professor não é apenas ter um "papelucho" dizendo que a gente é!
Quanto ao fato de nós homens termos "um tipo de compreensão" diferente de vocês mulheres, É A PURA REALIDADE!
Que bom saber que você também entende os alunos que hoje passam, ou já passaram por este tipo de problema.
Não é todo professor que entende isso, vide o que eu tive e saiu da escola.
Cada dia entendo mais isso, e aqui no meu exílio isto esta cada vez maior.
Além da barreira da lingua existe a barreira da cultura.
Eu é que tenho que me adaptar e explicar o que preciso e me fazer entender.
Se antes eu já pensava assim, agora então, vixe!
Está sendo uma boa escola.
Abraços
Não sei se existe gente burra de fato (penso que não porque acredito que todas as pessoas tem capacidades e é preciso desenvolvê-las, exercitá-las) mas que não existe só gente mal ensinada, não existe...rs...
Existe gente preguiçosa, gente desinteressada, desatenta, afobada...
Tudo isso dificulta a compreensão e aí, a culpa não é só de quem explica....
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