Vamos começar fazendo uma simples comparação. A empresa em que eu trabalho vende o mesmo produto aqui nos EUA e no Brasil, onde é fabricado.
Aqui, para cada US$ 1.00 faturado, o cliente paga o mesmo US$ 1.00 para a minha empresa e no final do ano ambas pagam Imposto de Renda sobre o lucro obtido, se houver.
No Brasil, cada R$1.00 faturado e recebido passa por uma maratona contábil mensal que deixa para a empresa, líquido, apenas R$ 0.60, o restante é pago ao governo. Sabem o que mais? O cliente que pagou os R$1.00 vai ter que pagar ainda mais um bocadinho para o governo.
Segundo o site Portal Tributário existe hoje no Brasil um total de 81 tributos diferentes em vigor. Isto é de um absurdo inacreditável quando comparamos com outros países onde os impostos existem em muito menor quantidade e são bem mais fáceis de serem administrados, mesmo onde os impostos são pesados como na Escandinávia.
Administrar todos os tributos é uma tarefa árdua, e cara, para qualquer empresa no Brasil. As bases de cálculo são diversas, impostos são calculados sobre outros impostos (o que vai contra a constituição) e as regras mudam a cada dia. Nos EUA, existe sim taxas adicionais sobre um artigo faturado (chamado VAT), mas é muito mais simples e descomplicado.
Outro exemplo: nos EUA, eu posso enviar o meu produto para qualquer lugar bastando apenas relacionar os produtos numa folha de papel e indicar o endereço de entrega. Só depois envio a fatura, que nada mais é do que uma folha de papel comum relacionando o preço a pagar.
No Brasil, qualquer produto precisa de uma Nota Fiscal para transitar. Esta nota tem que ser emitida de um talonário formalmente autorizado e impresso especialmente para a empresa. Leva-se tempo e dinheiro para se conseguir um talão de notas fiscais.
O motivo disto está no nome : Nota Fiscal. Na prática, trata-se de um débito para com o governo, pois ali estão todos os cálculos dos diversos tributos que serão recolhidos e pagos ao governo que, por sua vez, faz um esforço desesperado para controlar a movimentação de produtos para garantir a arrecadação de impostos (lembra das campanhas na televisão??).
A piada diz que no Brasil só se vai para a cadeia por 2 motivos : deixar de pagar pensão alimentícia e contrabando (o resto, os advogados livram…). Pois bem, você sabia que se você comprar um produto numa loja e levá-lo no seu carro sem a Nota Fiscal, técnicamente a polícia pode lhe prender por contrabando?
O ponto central aqui é que o nosso horroroso sistema tributário cria a “Burocracia da Nota Fiscal”, que, por sua vez, requer um exército de contadores e auditores, aumentando o custo das empresas. Consequentemente, cada vez mais empresas não resistem e acabam sonegando impostos ou fechando, o que leva o governo a criar ainda mais tributos para manter a arrecadação estável mas com um numero relativamente cada vez menor de empresas pagando impostos. Paralelamente, tem-se o aumento gradual da economia informal, onde empresas e trabalhadores não registrados compram e vendem produtos e serviços sem contribuir um centavo para o Estado. Isto se torna um ciclo vicioso : menos pagando mais, ao passo que mais e mais não pagam nada.
Este é o verdadeiro Custo Brasil : a inequalidade da nossa sociedade onde a restrita e maltratada classe média acaba sendo a unica fonte de renda do país e precisa arcar com a despesa total da sociedade. A população mais probre do Brasil está excluída da sociedade também no que diz respeito as suas obrigações. Para consertar isso, um excelente começo seria o de descomplicar e democratizar os impostos. É sabido que se a carga tributária fosse menor e mais simples muitas empresas sonegadoras ou que operam ilegalmente passariam a funcionar normalmente, aumentando a arrecadação e regularizando a vida de milhões de pessoas.
Fica aqui lançado o meu apelo e meu slogan: VAMOS ACABAR COM A NOTA FISCAL!
6 comentários:
Tô dentro. Se facilita então tem que sumir.
Abraços
Milton,
eu lembro que quando fui aos Estados Unidos, toda compra tinha uma taxa percentual, paga á parte, no ato da compra. Ou seja, você paga relativo ao que você consome. Esse é o único imposto?
Como funciona a questão da garantia dos produtos, basta apresentar essa folha que você falou onde consta a relação dos produtos adquiridos?
Excelente texto, Milton, muito elucidativo. Explica muita coisa, inclusive a "praga da pirataria" que corrói nossa economia (e nossas consciências!).
Agora, tem uma coisa, sua proposta de slogan, infelizmente, terá o mesmo destino de outras como:
"Abaixo a corrupção";
"Vote certo. Escolha bem seu candidato";
"Basta";
"Cansei";
Etc...
Ana Claudia, quando da venda do produto, o unico imposto que incide é o VAT mesmo. Além deste, a empresa anualmente paga imposto de renda sobre o lucro, se houver.
Quanto a garantia do produto, a nota de venda vale. Se você comprar um aparelho eletrônico, basta ir a loja com o selo de garantia que vem com o produto e nem precisa da nota de venda. A loja não quer complicação e troca na hora !
No Brasil, a nota fiscal tem que ser emitida por uma gráfica, tem que ser numerada e o talonário tem que ser registrado na receita federal. Desta forma, o governo finge que controla e a empresa finge que cumpre a lei, pois a coisa mais fácil que tem no Brasil é emitir nota fria ou calçada.
Ivo, além da praga da pirataria que você bem lembrou, tem ainda a questão da corrupção crônica: fiscal de impostos significa propina. Me mostre uma empresa que nunca sofreu achinque de fiscal e eu atirarei a primeira pedra.
Sim eu sei que a proposta é utópica. Mas o que seria do mundo sem o John Lennon ? Se pensarmos bem, nossa sociedade pode muito bem descomplicar as coisas. Temos talento para isso, só não temos a vontade política.
É isso aí, Milton.
Realmente talento e vontade nós temos. O problema é a política...
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