sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Crianças Especiais e Excepcionais - P2


Conforme combinado, segue o artigo da Antonia Yamashita:

"Eu diria que ter uma criança com deficiência é como nascer de novo, pois você passa a fazer parte de um novo mundo. Um mundo onde somos minoria, onde só nós conhecemos, e, mesmo entre nós poucos adotam a causa. Poucos fazem questão de lutar em busca do nosso lugar."

Hoje quando nasce uma criança os parentes e amigos se mobilizam até o hospital para conhecê-la e esperá-la junto à família. É uma verdadeira festa. Todos comemoram com muita alegria o nascimento daquele novo ser. Porém, quando alguma coisa não sai como o esperado e a criança vem com alguma deficiência tudo se transforma; começando com a visita dos amigos e parentes que nem chega a acontecer. Na verdade, a princípio nem há muito o que comemorar. Em geral, o nascimento de uma criança com deficiência traz consigo um misto de profunda tristeza, decepção, revolta, culpas, questionamentos sem respostas..., pois o pai, a mãe e a família toda espera sempre que nasça uma criança saudável.

É um momento decisivo para a família. São segundos que marcarão o futuro destas pessoas para sempre. São instantes de perdas irreparáveis. Rapidamente a família acorda de um sonho maravilhoso e tem que reestruturar uma realidade da qual ela não tem o menor domínio. É preciso que os laços familiares estejam bem estruturados para não desmoronarem diante deste acontecimento, pois fatalmente haverá uma alteração em todas as áreas de suas vidas. Sentimentalmente ocorre uma grande confusão diante do ocorrido, então, surgem as perguntas: Porquê comigo? Será castigo? Justo o meu filho! A área financeira também será abalada, pois o custo dos tratamentos de uma criança com deficiência é muito alto. No caso das famílias que possuem uma vida financeira mais frágil, a situação se torna ainda mais crítica.

Passado a fase inicial, é hora de levar a criança para casa. Muitos pais na verdade não tem ciência da real situação do bebê. A maioria dos hospitais não preparam os pais para enfrentar e aceitar a deficiência de seu filho. Em alguns casos, esta não será sequer notada durante os primeiros meses de vida, sendo percebida apenas durante seu desenvolvimento, e isso, a longo prazo. O relacionamento entre o casal, parte fundamental da família, também é afetado. A mãe geralmente é quem mais se dedica à criança. Muitas vezes entram em uma outra dimensão – num mundo de sofrimento e dor - e não conseguem sair, esquecendo da vida que sempre existiu. O pai é quem mais se afasta. Como mostram as pesquisas, a maioria acaba por abandonar a família; muitos por acharem que não tem condições de enfrentar a situação.

Com o passar do tempo e com a ajuda do cuidador, a criança vai ampliando seus contatos sociais, e aproxima-se o momento de conquistar outros espaços fora do seu meio familiar.... É o contato com a sociedade. Geralmente, esse primeiro contato se dá na ida para creche ou escolinha. A família enfrenta neste período a dificuldade da aceitação e convivência com a criança deficiente. Esse momento como não poderia deixar de ser, mexe muito com o sentimento da família. É preciso ser forte para buscar seu lugar em meio a uma sociedade completamente despreparada para lidar com o diferente. Toda família tem seu lugar na sociedade, com a liberdade de escolher onde seus filhos vão estudar, passear e morar; tudo de acordo com suas condições.

A família na qual um dos membros possui alguma deficiência sente com mais intensidade as dificuldades nas coisas mais comuns e simples da vida como estudar, trabalhar, passear.... E acabam fazendo uma triste opção... Algumas famílias desistem dos locais comuns e optam por colocar seus filhos em escolas especiais, impedindo que ele cresça por outros meios; o da convivência em sociedade.

Na minha opinião tal ação dificulta ainda mais a inclusão. Ao impedir o contato entre as pessoas diferentes cria-se a ilusão de uma sociedade perfeita; entretanto ao levantarmos esta cortina enxergamos uma sociedade com bases e raízes tão frágeis, que talvez por medo do contato com a realidade, acaba se escondendo atrás de pré conceitos fundamentados na falta de informação e conhecimento.

Passados os acertos, entendimentos, desentendimentos...chegando a aceitação do inevitável, agora a família parte para uma nova conquista; a do seu lugar na sociedade; lugar que não existe. Ao mesmo tempo que se criam leis para melhorar a vida do deficiente, estas não são postas em prática e quando são apresentam-se de maneira incorreta e em pequenas partes. (literalmente em doses homeopáticas!!)

Apesar de todo desconforto que sentimos, ainda assim mesmo acredito que vale a pena; vale a pena continuar; pelo meu, pelo seu, e por todos os filhos e filhas que a vida poderá nos proporcionar ...mas para isso é preciso darmos as mãos e mostrar a nossa importância no mundo; pois também nossos filhos tem o direito ao respeito, à ética, á dignidade e à cidadania.

É nesta sociedade que está inserida a família do deficiente.
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Texto cedido pela própria autora Antônia Yamashita

7 comentários:

Ana Cláudia disse...

É impressionante o relato da Antônia. A foto fui eu que escolhi. Embora pareça uma foto estranha de um bebê sozinho, essa foto me passou a sensação de solidão e desamparo destas famílias diante de uma sociedade tão despreparada.
Nós precisamos plantar sementes de mudança e ajudar de alguma forma.
Acho que um bom começo é perguntando na escola de nossos filhos porque não tem crianças especiais ou porque têm poucas.
É falta de procura ou falta de interesse da escola?

Se mostrarmos ao mundo que estamos dispostos a aprender a conviver e respeitar, a ajudar a abrir portas para essa realidade no nosso mundo que só é redondinho na aparência, não é muito, mas já é alguma coisa.

Cristiane A. Fetter disse...

Pois é Ana, é tão impressionante que eu o trouxe o texto para cá, já que somos uma arena aberta a temas tão diferentes.
Quando eu conheci o trabalho dela fiquei impressionada, pois já conhecia a força de luta de outras famílias que tem filhos nestas condições, mas não conhecia nenhuma que também havia pensada nos pais destas famílias, ou pelo menos que divulgasse esse tipo de trabalho.
Além da Antônia, o filho dela é uma graça e é um grande batalhador também.
Mas eu acho que temos que ver além, não é só os locais de acesso como ônibus, taxis, ruas (com o acesso permitido as pessoas com deficiência e não com carros embarreirando, ou obras), lojas, restaurantes etc, acredito que temos que abrir este acesso é dentro de nós mesmos.

Antonia YamaShita disse...

Oi meninas, pois é eu nunca conheci ninguém nem nada que pensasse nos pais, mas eu senti muito isso e hoje quando vejo uma mãezinha na rua carregando um ser tão forte mas tão indefeso tenho vontade de abraçá-la, de dizer para que tenha forças, enfim quero mesmo fazer algo em prol de "nós", sei muito bem que por trás do rosto de cada uma, seja este rosto alegre, triste, cansado... existe muita alegria mas também dor, cansaço...
Todos podem colaborar com estas mães, procurando não demonstrar o choque ao ver seu filho, tratando-o como se não houvesse diferença entre ele e as demais crianças, não as olhando como se fossem coitadinhas, enfim, nos tratando como realmente somos, apenas mulheres, mães...

Abraços

Nando Damázio disse...

A aceitação muitas vezes é um passo difícil, embora o novo serzinho que nasce é digno de amor e carinho como são todas as criaças.
Belíssimo texto, meninas.
Mais uma vez, parabéns !!
Nando

Liz / Falando de tudo! disse...

Emocionante...as vezes a vida da gente é tao normal que nem percebemos que ha particularidades proximas e que fazem diferença quando se lê algo tocante como este texto.
"Normal", o que sera isso meu Deus, por que a gente sempre tem essa mania de dividir as coisas...
O mundo é particular, mas todo mundo é igual!!
Amei,
Liz

Cristiane A. Fetter disse...

Pois é Liz, é muito emocionante mesmo.
Relatos como esse só nos dão mais força para seguir nossos humildes dias.
E também para vermos como temos uma vida tranquila e exacerbamos nossos problemas.
Volte sempre.
Abraços

Anônimo disse...

Olá meninas,

muito belo o trabalho da Antônia. Imagino o que ela deve ter passado e o que ela passa até hoje. Quando comecei a trabalhar aqui na APAE de Conselheiro Lafaiete, pude sentir na pele como é lidar com essas crianças dia-a-dia. Apesar de já ter atendido um paciente aqui outro ali, nada se compara estar num lugar em que se pode sentir, no convívio diário, a difícil tarefa de criar um filho com deficiência. Mas vejo o quão é prazeroso ver um sorriso ou a tentativa de falar nesses meninos. É realmente emocionante para quem aposta tanto neles. A questão da inclusão escolar é delicada e estou na luta diária por conseguir incluir esses alunos em escola regular. Mas confesso que não é tão fácil assim. Olhem só: Para a escola receber crianças com deficiências e transtornos tão específicos e diversos seria necessário que a mesma disponibilizasse uma equipe multidisciplinar com terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo, médico, fisioterapeuta, psicopedagogo, além de ter a estrutura toda adapatada a cada uma. Acredito que um dia chegaremos lá, mas isso levará algum tempo. É um processo demorado. Não se pode fazer a inclusão de forma desordenada e irresponsável.