segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

TAPA NA ELITE

O filme TROPA DE ELITE é uma tapa na cara da gente. Um tapa na cara de todo mundo. Um sacode geral. Um acorda! O filme é violento e mostra a realidade nua e crua da violência no Rio de Janeiro. Ninguém concorda com o que retrata o filme. Mas a verdade é aquela. De qualquer forma, o efeito do tapa já passou e pouco se fala do filme. A comoção já passou.

Não acho que o BOPE seja “aquilo tudo” que mostra no filme, mas tenho certeza que a Polícia Militar é aquilo: baixo, pequeno e danoso à nossa sociedade que o filme mostra. Embora a polícia seja a "ponta" mais fraca da corda, embora exista policial sério e honesto. A maioria é aquilo ali. O Policial é vítima e algoz.
E mostra o mais importante: que é a "elite" da classe média que sustenta e mantém essa violência e o governo patrocina. É o consumidor de droga que financia e mata. É o governo quem deixa entrar e ficar.

Não sei se a legalização das drogas resolveria o problema, mas que daria um fim rápido à tudo isso, daria. Claro, que isso não é solução porque assim como o tráfico veio substituir os bicheiros, alguma atrocidade vai substituir o tráfico.
Mas até que isso tome força de novo, teremos um tempo para respirar e quem sabe, nos preparar para não deixar que isso aconteça de novo (utopia, eu sei...).

Cerveja não é droga, cigarro não é droga? E são permitidos e estão por aí, acabando com a vida de muitos jovens, levando muitos a morrer prematuramente e dizimando famílias. Mas só bebe e fuma quem quer. Não há tráfico, não há violência que seja sustentada pelo consumo dos mesmos. Há contrabando e falsificação, uso abusivo de propaganda e mídia, mas isso é outra história.

Outra coisa que muito me intriga é o que os militares ficam fazendo que não estão de plantão nas fronteiras e aeroportos coibindo a entrada de droga ilegal no país?

O que falta para o governo usar essa "inteligência" sub-utilizada?
A gente ainda não está em guerra com o tráfico de drogas?
Vai lá ver o filme para ver se aquilo não é guerra? Pode ser civil, mas é guerra.
O Brasil manda militares para outros países como o Haiti e nós estamos aqui, abandonados pelo nosso governo.

E outra coisa que me veio á cabeça outro dia: apesar da justiça ser lenta, ineficaz e medíocre, que tal se os usuários tivessem as mesmas penas que os traficantes? Usuário, atualmente, diante da realidade, deveria ser tratado como criminoso, pois é isso que ele é. E isso inclui todo mundo que dá uma inocente cheirada no seu baseadinho ilegal comprado do tráfico!

Sei lá, gente...a gente sai do filme elétrico e desanimado, porque tá difícil acabar com aquilo tudo. A corrupção está em todos os níveis de nossa sociedade e eu, pelo menos, não vejo solução diante de tanta impunidade, falta de vergonha, ambição e falta de caráter que reinam em todas as esferas. Nota Zero para o Brasil, nota dez para o cinema nacional. O filme é muito bom, infelizmente.

A gente se tranca em casa, anda nos nossos carros com ar-condicionado, coloca os filhos em escolas particulares, compra videos games ou não se preocupa com o que eles estão fazendo numa Lan House.
E senta na frente da televisão num dia de domingo...
achando que com a gente nunca vai acontecer nada.

Até que um dia, acontece.




Foto: capa do livro no qual o filme se baseia


__________________________________________________________________________________ Ana Cláudia Bessa

7 comentários:

Anônimo disse...

Tem muita gente que defende a polícia militar e a civil. Eu já passei por coisas horrorosas com polícia. Tenho medo deles.
Vide o grupo dos Inhos da cúpula do Polícia Civil liderados pelo Álvaro Lins.

Cristiane A. Fetter disse...

É isso mesmo Ana. Temos por hábito fingir que nada acontece.
Nos trancamos nos shoppings para ter certeza de que estamos em um lugar seguro, só que alí a realidade está dentro de uma bolha com ar-condicionado e fast-food.
Até compreendo que fazemos isso para que possamos continuar tentando levar uma vida normal.
Saiu em uma edição da revista veja (acho que no mês passado) que nos lugares onde o exército deveria estar presente, até mesmo para protejer nossas fronteiras de entrada ilegal de qualquer coisa, isso não acontece.
É mais ou menos assim (exagerando é claro): Rio de Janeiro, São Paulo tem 500 mil soldados; Amazônia, 500 soldados.
Como você bem disse e a maioria já sabe, se tem traficante em favela, é porque a droga chega lá. E chega lá como? por onde? Eu posso responder um dos caminhos. O bairro da Ilha do Governador no Rio de Janeiro é uma grande porta, exatamente por ser uma ilha e não ter um controle tão grande sobre as embarcações que aportam lá.
Não sei, as soluções parecem tão simples, mas tão difíceis de serem alavancadas por quem de direito.
É como você disse, o impacto do filme já passou, um novo debate só quando uma nova tragédia acontecer.

Anônimo disse...

Olá Ana,

Andava meio sumida, não é? Adorei o seu texto e por coincidência assisti ao filme nessa semana e gostei muito. O que penso disso tudo é que se educarmos bem nossos filhos, veremos o resultado lá na frente. Nada melhor do que PENSAR antes de agir. Vejo que essa sociabilização, que tanto cobramos de nossos filhos, acaba por abafar a identidade pessoal deles e reforça a da turma "maria vai com as outras".

Ana Cláudia disse...

Eu confesso minha sensação de impotência diante de tanta violência, impunidade, corrupção, desobrigação social e banalidade o trato da vida humana.

Sei lá onde vamos parar...

Anônimo disse...

Enfim mais alguém além de mim tem a coragem de (pelo menos) cogitar a liberação da produção, aquisição e uso (legais) das drogas.
Será que aquele meu texto antigo (que eu próprio censurei e não publiquei no blog) tem algo a ver com isso, Ana?

Ana Cláudia disse...

Sem dúvida, Ivo, seu texto (auto-censurado...rs) tem a ver com minha votande de tocar no assunto aqui. Não tenho ainda uma posição definida porque já li várias matérias contra e a favor da liberação das drogas. Assim como o aborto, é um assunto polêmico, contudo, acho fundamental que seja discutido porque não dá mais para vermos essa violência vinda do tráfico de drogas e ficar passivo, né?

Ana Cláudia disse...

Como diz a música aí embaixo: nós é que de fato estamos indo para a prisão!